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CLÓVIS ROSSI
O "jurômetro"
SÃO PAULO - Nada contra o "impostômetro" montado pela Associação Comercial para mostrar o
quanto o brasileiro paga de impostos. Mas o placar só ficaria completo se alguém se dispusesse a montar
o "jurômetro", o quanto o governo paga de juros aos detentores da dívida pública.
Houvesse tal contagem, o brasileiro ficaria sabendo que é o pagamento de juros o maior responsável
pelos números altíssimos do "impostômetro".
No primeiro mandato do presidente Lula, conforme compilação
de João Sicsú, economista hoje no
Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), para a revista "Rumos do Desenvolvimento", os juros
comeram R$ 587,9 bilhões. Correspondem a 25% de tudo o que país
produziu em 2006, à imponente
média de algo em torno de 6% ao
ano.
Para comparação, sempre segundo a mesma fonte: com educação, os
gastos somaram R$ 62,3 bilhões;
com saúde, R$ 136,3 bilhões.
Como lembra freqüentemente
Marcio Pochmann, ex-Unicamp,
ex-secretário de Marta Suplicy e
hoje presidente do Ipea, 80% do
que é pago de juros vai para o bolso
de apenas 20 mil famílias, a elite da
elite, essa que o petismo ama atacar, mas alimenta caprichosamente
ano após ano (como o fazia o governo anterior, aliás).
Como diria o próprio Lula, nunca
neste planeta se transferiu tanto dinheiro do conjunto dos contribuintes para os ricos mais ricos.
Não há a mais leve perspectiva de
que essa transferência maciça seja
reduzida nos próximos anos. Logo,
fica sendo mais uma bravata sem
sentido a tese (de resto correta) de
Lula segundo a qual o governo deveria "contratar mais gente, mais
qualificada, mais bem-remunerada,
porque aí teremos também serviços
de excelência prestados para a sociedade brasileira".
É tudo o que não existe nem vai
existir no futuro próximo.
crossi@uol.com.br
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