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CARLOS HEITOR CONY
Opinião sobre as vacas
RIO DE JANEIRO - O Rio amanheceu cantando... Não, não era isso que queria escrever, e sim: "O Rio
amanheceu cheio de vacas". Não entendi bem o que tantas vacas faziam
na paisagem da cidade, tradicionalmente sem elas, desde que uma lei
municipal proibiu estábulos nos limites urbanos da então capital da
República.
O Brasil cultivava vacas, precisava delas, mas as expulsara para outras paragens, que naquele tempo
eram chamadas de roças.
Menino urbano, a primeira noção
que delas adquiri foram as "vacas
leiteiras", caminhões que paravam
nas esquinas mais importantes dos
bairros, buzinavam durante cinco
minutos, donas-de-casa corriam
aflitas com panelas e bules, o leite
vinha gelado, mas nem sempre fresco, a saúde pública também proibiu
aquele tipo de vaca na cidade, o produto passou a ser distribuído industrialmente, como um refrigerante
ou um detergente.
Lembro o estupor nacional quando, num ano qualquer do século
passado, o Zé Serra, nomeado ministro, declarou que nunca tinha
visto uma vaca em carne e osso. Fui
dos poucos que compreenderam o
atual governador paulista. Só tomei
conhecimento da existência do gado vacum quando já entrado em
anos. Mas até hoje a vista de um boi
ou de uma vaca me dá um torpor
pastoral.
Mesmo assim, há tempos, iniciei
um romance que teria como título
"Opinião da vaca sobre a cidade do
Rio de Janeiro nos meados do século 20". Nunca terminei este trabalho e, se um dia o fizer, inverterei o
título, que será "Opinião da cidade
do Rio de Janeiro sobre a vaca no
início do século 21".
Em Copacabana, botaram até
uma vaca ao lado da estátua do poeta Drummond de Andrade, fazendeiro do ar. Se nada entendia de vaca, passei a entender menos.
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