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São Paulo, sexta-feira, 07 de novembro de 2003

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MARCIO AITH

Ciclo eleitoral

SÃO PAULO - Das muitas contradições que cercam o primeiro acordo entre o atual governo e o FMI, uma salta aos olhos: o presidente Lula e o ministro Palocci parecem ter jogado de vez no lixo o sonho petista de superávit anticíclico, pelo qual o país apertaria mais as contas quando está crescendo e investiria mais em políticas sociais em anos de estagnação.
O pacote anunciado anteontem coroa justamente o inverso: em 2003, ano em que o crescimento da economia será menor que 1%, o país fará um esforço fiscal primário (economia de receitas para pagamento de juros) próximo de 4,35%; em 2004, ano para o qual se prevê uma expansão de 3,5%, o esforço deve cair para cerca de 4,15% do PIB.
Embora cosmética, a diferença entre os dois percentuais oferece sinais políticos interessantes. Se a proposta do superávit anticíclico fosse levada a sério, Palocci deveria ter a iniciativa de sugerir à opinião pública um aperto fiscal adicional em 2004, independentemente do FMI.
Nada mais lógico, já que o governo espera uma fase virtuosa de crescimento e poderia usá-la para defender-se de crises futuras.
O problema é que, entre o ciclo eleitoral e o ciclo de crises financeiras internacionais, Lula agarrou-se ao primeiro. E ainda recebeu um brinde do Fundo: um valor de R$ 2,9 bilhões para financiar em 2004 projetos estaduais e municipais de saneamento.
O valor é ínfimo em comparação com os R$ 178 bilhões que seriam necessários para universalizar o abastecimento de água e esgoto no país. No entanto é suficiente para suavizar críticas ao acordo e atrair votos.
Ainda no campo dos votos, vale lembrar que Lula conseguiu empurrar para 2007 [primeiro ano do próximo governo] US$ 5,5 bilhões de sua dívida com o Fundo que venceriam em 2005. Assim, o presidente pode ingressar com mais folga no sensível ano eleitoral de 2006.


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