|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MARCIO AITH
Ciclo eleitoral
SÃO PAULO - Das muitas contradições que cercam o primeiro acordo
entre o atual governo e o FMI, uma
salta aos olhos: o presidente Lula e o
ministro Palocci parecem ter jogado
de vez no lixo o sonho petista de superávit anticíclico, pelo qual o país
apertaria mais as contas quando está
crescendo e investiria mais em políticas sociais em anos de estagnação.
O pacote anunciado anteontem coroa justamente o inverso: em 2003,
ano em que o crescimento da economia será menor que 1%, o país fará
um esforço fiscal primário (economia
de receitas para pagamento de juros)
próximo de 4,35%; em 2004, ano para o qual se prevê uma expansão de
3,5%, o esforço deve cair para cerca
de 4,15% do PIB.
Embora cosmética, a diferença entre os dois percentuais oferece sinais
políticos interessantes. Se a proposta
do superávit anticíclico fosse levada a
sério, Palocci deveria ter a iniciativa
de sugerir à opinião pública um aperto fiscal adicional em 2004, independentemente do FMI.
Nada mais lógico, já que o governo
espera uma fase virtuosa de crescimento e poderia usá-la para defender-se de crises futuras.
O problema é que, entre o ciclo eleitoral e o ciclo de crises financeiras internacionais, Lula agarrou-se ao primeiro. E ainda recebeu um brinde do
Fundo: um valor de R$ 2,9 bilhões
para financiar em 2004 projetos estaduais e municipais de saneamento.
O valor é ínfimo em comparação
com os R$ 178 bilhões que seriam necessários para universalizar o abastecimento de água e esgoto no país. No
entanto é suficiente para suavizar
críticas ao acordo e atrair votos.
Ainda no campo dos votos, vale
lembrar que Lula conseguiu empurrar para 2007 [primeiro ano do próximo governo] US$ 5,5 bilhões de sua
dívida com o Fundo que venceriam
em 2005. Assim, o presidente pode ingressar com mais folga no sensível
ano eleitoral de 2006.
Texto Anterior: Editoriais: A ALCA FLEXÍVEL
Próximo Texto: Namíbia - Eliane Cantanhêde: Atravessaram o samba Índice
|