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São Paulo, sexta-feira, 07 de novembro de 2003

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ELIANE CANTANHÊDE

Atravessaram o samba

NAMÍBIA - A viagem à África e a polêmica sobre o acordo com o FMI abrem mais um capítulo numa pergunta que não quer calar: quem, afinal, manda no governo? O presidente ou o politburo? Lula ou o trio Palocci, Zé Dirceu e Gushiken?
Na terça-feira, Lula soube em Maputo que os jornalistas responsáveis pela cobertura na África estavam alvoroçados porque o acordo seria fechado no dia seguinte, em Brasília, entre Palocci e Anne Krueger. Pegou o telefone e questionou o ministro.
Na quarta de manhã, Lula deu um recado claro em entrevista aos mesmos jornalistas: "Não é possível haver acordo com o presidente estando em Moçambique", avisou ele. O recado não foi só para os jornalistas. Foi também, ou principalmente, para o próprio Palocci e para os que tenham dúvidas sobre quem manda.
Mas a questão não estava resolvida. Segundo Lula, tudo o que Palocci e Krueger discutiam não passava de "pontos técnicos", que não havia acordo nenhum agora e que, se viesse a haver, seria só em dezembro.
Lula falou em Maputo de manhã, Palocci encontrou-se com Krueger depois em Brasília e, à noite, estava tudo anunciado. "Tudo" é o acordo, com prazos, valores de agora, valores de depois, tudo amarradinho. Saiu até o detalhe dos US$ 2,9 bi em saneamento para o próximo ano.
Então, é acordo ou não é acordo? Quem deu a palavra final foi Lula ou foi Palocci? A dúvida, que já batia em Maputo tarde da noite (quatro horas a mais do que em Brasília), foi respondida por Lula via assessoria: tudo o que fora dito pela manhã continuava válido. A mesma versão foi repetida ontem, já com os jornais circulando com as declarações de Lula e os termos do acordo, lado a lado.
A dúvida, portanto, continuou. Até que a luz se fez na assessoria presidencial: Palocci não anunciou um "acordo", só os termos técnicos em negociação. Acordo, só quando Lula o assinar, em dezembro. Ah, bom!
Sendo assim, mera questiúncula semântica, tudo está tudo claro. Lula manda, Palocci manda, serão todos felizes para sempre. Será mesmo?


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