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ELIANE CANTANHÊDE
Atravessaram o samba
NAMÍBIA - A viagem à África e a polêmica sobre o acordo com o FMI
abrem mais um capítulo numa pergunta que não quer calar: quem, afinal, manda no governo? O presidente
ou o politburo? Lula ou o trio Palocci,
Zé Dirceu e Gushiken?
Na terça-feira, Lula soube em Maputo que os jornalistas responsáveis
pela cobertura na África estavam alvoroçados porque o acordo seria fechado no dia seguinte, em Brasília,
entre Palocci e Anne Krueger. Pegou
o telefone e questionou o ministro.
Na quarta de manhã, Lula deu um
recado claro em entrevista aos mesmos jornalistas: "Não é possível haver
acordo com o presidente estando em
Moçambique", avisou ele. O recado
não foi só para os jornalistas. Foi
também, ou principalmente, para o
próprio Palocci e para os que tenham
dúvidas sobre quem manda.
Mas a questão não estava resolvida. Segundo Lula, tudo o que Palocci
e Krueger discutiam não passava de
"pontos técnicos", que não havia
acordo nenhum agora e que, se viesse
a haver, seria só em dezembro.
Lula falou em Maputo de manhã,
Palocci encontrou-se com Krueger
depois em Brasília e, à noite, estava
tudo anunciado. "Tudo" é o acordo,
com prazos, valores de agora, valores
de depois, tudo amarradinho. Saiu
até o detalhe dos US$ 2,9 bi em saneamento para o próximo ano.
Então, é acordo ou não é acordo?
Quem deu a palavra final foi Lula ou
foi Palocci? A dúvida, que já batia em
Maputo tarde da noite (quatro horas
a mais do que em Brasília), foi respondida por Lula via assessoria: tudo
o que fora dito pela manhã continuava válido. A mesma versão foi repetida ontem, já com os jornais circulando com as declarações de Lula e os
termos do acordo, lado a lado.
A dúvida, portanto, continuou. Até
que a luz se fez na assessoria presidencial: Palocci não anunciou um
"acordo", só os termos técnicos em
negociação. Acordo, só quando Lula
o assinar, em dezembro. Ah, bom!
Sendo assim, mera questiúncula semântica, tudo está tudo claro. Lula
manda, Palocci manda, serão todos
felizes para sempre. Será mesmo?
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