São Paulo, quarta-feira, 08 de janeiro de 2003

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CRISE EVITÁVEL

A crise em torno do programa de armas nucleares da Coréia do Norte foi, em parte, produzida pelos próprios EUA. Não se trata, é claro, de defender o sinistro regime do ditador Kim Jong-il, um dos mais fechados e tirânicos do mundo, mas é preciso reconhecer que George W. Bush foi inábil ao lidar com o país.
Autoridades norte-coreanas gostam de jogar com sua suposta imprevisibilidade e retórica intimidante. Apesar de a fronteira entre as Coréias do Norte e do Sul permanecer uma das regiões mais militarizadas e hostis do planeta, ambas as nações vinham fazendo progressos nas conversações bilaterais. Os movimentos de reaproximação conduzidos pelo presidente sul-coreano Kim Dae-jung, conhecidos como Política da Luz Solar, lhe valeram o Prêmio Nobel da Paz de 2000.
É verdade que os avanços eram lentos e determinados não por um sincero desejo de abertura por parte das autoridades norte-coreanas, mas principalmente pela terrível fome que afeta o país desde o início dos anos 90. Segundo alguns cálculos, 2 milhões de norte-coreanos (10% da população) teriam morrido de causas relacionadas à desnutrição entre 1995 e 1998, o auge da escassez.
Em 2001, após os atentados de 11 de setembro, sem que a Coréia do Norte tivesse feito nada de comprometedor, Bush, num discurso, incluiu o país no que ele chamou de "eixo do mal", ao lado de Irã e Iraque.
Para as autoridades norte-coreanas, isso deve ter soado confusamente. Se a inclusão no "eixo do mal" é a recompensa por arriscar uma abertura, parece mais lógico mesmo voltar a apostar na chantagem e no desafio, principalmente agora, quando tudo indica que os EUA, na iminência de uma guerra contra o Iraque, farão tudo para evitar a abertura de uma segunda frente militar.
O lamentável é que essa crise e o desgaste para o processo de abertura da Coréia do Norte poderiam ter sido evitados ou atenuados se Bush tivesse sido um pouco mais hábil.
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