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CRISE EVITÁVEL
A crise em torno do programa
de armas nucleares da Coréia
do Norte foi, em parte, produzida pelos próprios EUA. Não se trata, é claro, de defender o sinistro regime do
ditador Kim Jong-il, um dos mais fechados e tirânicos do mundo, mas é
preciso reconhecer que George W.
Bush foi inábil ao lidar com o país.
Autoridades norte-coreanas gostam de jogar com sua suposta imprevisibilidade e retórica intimidante.
Apesar de a fronteira entre as Coréias
do Norte e do Sul permanecer uma
das regiões mais militarizadas e hostis do planeta, ambas as nações vinham fazendo progressos nas conversações bilaterais. Os movimentos
de reaproximação conduzidos pelo
presidente sul-coreano Kim Dae-jung, conhecidos como Política da
Luz Solar, lhe valeram o Prêmio Nobel da Paz de 2000.
É verdade que os avanços eram lentos e determinados não por um sincero desejo de abertura por parte das
autoridades norte-coreanas, mas
principalmente pela terrível fome
que afeta o país desde o início dos
anos 90. Segundo alguns cálculos, 2
milhões de norte-coreanos (10% da
população) teriam morrido de causas relacionadas à desnutrição entre
1995 e 1998, o auge da escassez.
Em 2001, após os atentados de 11 de
setembro, sem que a Coréia do Norte
tivesse feito nada de comprometedor, Bush, num discurso, incluiu o
país no que ele chamou de "eixo do
mal", ao lado de Irã e Iraque.
Para as autoridades norte-coreanas, isso deve ter soado confusamente. Se a inclusão no "eixo do mal" é a
recompensa por arriscar uma abertura, parece mais lógico mesmo voltar a apostar na chantagem e no desafio, principalmente agora, quando
tudo indica que os EUA, na iminência de uma guerra contra o Iraque, farão tudo para evitar a abertura de
uma segunda frente militar.
O lamentável é que essa crise e o
desgaste para o processo de abertura
da Coréia do Norte poderiam ter sido
evitados ou atenuados se Bush tivesse sido um pouco mais hábil.
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