São Paulo, quarta-feira, 08 de janeiro de 2003

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VINICIUS MOTA

Um "interventor democrático"

SÃO PAULO -De meados de outubro de 1981 ao final de abril do ano seguinte, um frenesi tomou conta da Universidade Estadual de Campinas. O economista Carlos Lessa, indicado para o BNDES de Lula, foi um dos protagonistas daquele evento.
A Unicamp aprovara um processo de sucessão para a reitoria prevendo uma consulta democrática à comunidade. Mas o governo Maluf reagiu. Encontrou um pretexto para intervir no Conselho Diretor da universidade, exonerar oito diretores de unidades e nomear os respectivos interventores. Para as ciências humanas (que englobavam a economia) foi designado um biólogo, que renunciou menos de 24 horas depois de assumir, talvez convencido pelo "comitê de recepção" preparado pelos estudantes.
Numa solução de compromisso, a reitoria aceitou um nome da própria unidade para suceder o diretor exonerado. O escolhido foi Carlos Lessa.
A via negociada não agradou a muitos estudantes e professores. Suspeitavam que os economistas estivessem aproveitando o impasse para ganhar poder na universidade e, de resto, contribuindo para desmobilizar a reação interna à intervenção. Adeptos da solução Lessa tentaram convencer a resistência de que era melhor um "interventor democrático" do que um imposto pelo malufismo.
O fato é que integrantes daquele grupo de economistas da Unicamp, então ligados ao PMDB, foram progressivamente conquistando poder não só na universidade, mas também nos governos estadual e federal.
Com o advento do PSDB, José Serra e Paulo Renato (que presidia a associação dos docentes no início da crise de 81) formalizaram o desgarramento do time original. Já nomes como Maria da Conceição Tavares, Luiz Gonzaga Belluzzo e Carlos Lessa foram se aproximando do PT.
Petistas certamente estavam entre os que, há mais de 20 anos, não se convenceram do argumento do "interventor democrático" e preferiram tratar a indicação de Lessa como uma intervenção sem adjetivo.


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