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CARLOS HEITOR CONY
Presidente Seabra
RIO DE JANEIRO - Apelidos sempre me impressionaram. É assombroso
como um cara, de repente, começa a
ser chamado de Caveirinha, de Goiabada, de Vá com Deus ou de Charuto. Mesmo os mais óbvios e explicáveis causam-me espanto, como Deixa-que-eu-chuto, Pato Rouco ou Risadinha.
Poderia citar centenas de apelidos
que se justificam ou não, mas todos
eles têm sempre um ponto de partida
ou de chegada que, embora não façam sentido, dão uma pista, criam a
expectativa de um sentido.
Mas sempre há exceções. O exemplo
que mais me emocionou foi o do Seabra. Passei anos chamando-o de Seabra, todo mundo o chamava de Seabra e ele não era Seabra coisa nenhuma, era simples e honestamente
Araújo, acho que Araújo Soares ou
Soares de Araújo, nunca ficou muito
clara a ordem dos seus nomes verdadeiros.
Mas o Seabra surgiu um dia, não se
sabe como, alguém se esqueceu do
Araújo Soares ou do Soares de Araújo e disse o primeiro nome que lhe
veio à cabeça: Seabra. E aconteceu
uma coisa formidável: Seabra atendeu, embora nunca o tivessem chamado de Seabra. Daí houve aquilo
que os economistas chamam de efeito
sistêmico, e os comentaristas internacionais, de efeito dominó. Seabra ficou Seabra para o resto de seus dias,
de tal forma que, ao se registrar como
candidato a vereador pelo Prona,
exigiu que a Justiça Eleitoral aceitasse seu nome completo e seu apelido.
De maneira que Araújo Soares ou
Soares de Araújo foi eleito como Seabra, que constou da lista de candidatos com o adendo entre parênteses.
Nada a ver com o nosso presidente,
que adotou oficialmente o apelido
mais do que corriqueiro de Lula. Ignoro se no diploma presidencial que
lhe deram consta o Lula entre ou sem
parênteses.
De qualquer forma, expliquei tudo
isso para o Seabra e ele ficou excitado. E mais excitado fiquei eu, correndo o risco de ser um dia governado
por um Seabra que não é Seabra.
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