São Paulo, segunda-feira, 08 de janeiro de 2007

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PLÍNIO FRAGA

Idéias apagadas

RIO DE JANEIRO - Quadro negro e giz são símbolos não de aprendizado, mas de chatice. A escola está fora da realidade dos jovens em instrumentação, temas, abordagem. É reveladora a conclusão da reportagem de Antônio Gois e Luciana Constantino, ontem nesta Folha, de que 40,44% do 1,7 milhão de jovens entre 15 e 17 anos que deveria estar estudando se mantêm fora da sala de aula porque querem.
Apenas 17,11% apontam a necessidade de trabalho como razão para deixar os estudos. O imperativo econômico é acachapantemente derrotado pela incapacidade institucional da escola de mostrar-se, se não prazerosa, ao menos necessária ao jovem entre 15 e 17 anos.
Não é uma questão de linguagem. Os jovens estão aí escrevendo "kd", "vc", "blz" e "naum" em blogs, em e-mails e em mensagens via celular. Será um problema esse uso despojado e limitado da escrita? Se for, é infinitamente menor do que o enfrentado por um professor que está em uma sala de aula -estruturalmente a mesma há centenas de anos- concorrendo na busca da atenção do jovem com tecnologias informativas que se renovam, se moldam e se multiplicam diariamente, em escala mundial.
Uma idéia na cabeça e um giz na mão é uma imagem quixotesca de professor. Não adianta ficar em frente ao quadro explicando aos jovens a existência de moinhos de vento tão-somente. Moinhos não mais há, num mundo em que dom Quixote procuraria a amada Dulcinéia em uma página do Orkut.
"Os professores eram muito chatos. Não sabiam explicar nada e repetiam todo mundo", afirmou à Folha uma jovem que deixou a escola aos 16 anos e em seguida engravidou. O desafio do sistema educacional é apagar essa idéia de chatice. Será preciso algo infinitamente mais complexo do que um simples apagador de giz.


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