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VINICIUS MOTA
Eleições inflamáveis
SÃO PAULO - A retirada das colônias judaicas de Gaza e a criação do
partido Kadima, para unir moderados à direita e à esquerda, foram
cartadas surpreendentes do então
premiê Ariel Sharon -que adoeceu
e saiu da vida pública a seguir.
A iniciativa, promissora, sofreu
corrosão acelerada. Três anos depois, o governo do Kadima declarou
"guerra total" contra o Hamas, entre outros motivos, para tentar evitar o triunfo da direita radical de
Binyamin Netaniahu nas urnas.
No intricado jogo do Oriente Médio, quando alguém mexe uma peça, deflagra reconfiguração em todo
o tabuleiro cujo sentido final está
fora de seu controle e às vezes contraria seu interesse. Israel vota em
fevereiro; Irã e Líbano, em junho.
A ofensiva de Israel em Gaza veio
a calhar para a plataforma eleitoral
dos movimentos islâmicos extremistas naqueles dois países. No Líbano, o temor é que o Hizbollah,
grupo xiita patrocinado pelo Irã e
pela Síria, obtenha vitória estrondosa e desequilibre o precário balanço de forças na política libanesa.
Seria o golpe de misericórdia no
movimento moderado e modernizante que, em 2005, pôs fim a três
décadas de tutela síria no Líbano.
No Irã, os bombardeios sobre Gaza dão pretexto para que a linha dura -insuflada pelo alucinado Mahmoud Ahmadinejad, que tentará a
reeleição- aperte o cerco contra os
reformistas. Um grande jornal desta tendência foi fechado pelo regime na última semana de dezembro.
Dias antes, o escritório da ativista
de direitos humanos Shirin Ebadi,
Nobel da Paz em 2003, havia sido
fechado e devassado pelo governo.
Numa atitude inusual nos quase
30 anos do regime fundamentalista
xiita, o líder supremo do país se inclina para um dos lados da disputa
presidencial: o aiatolá Ali Khamenei dá declarações de apoio a Ahmadinejad. Nome mais forte entre
os reformistas, o ex-presidente Mohammad Khatami sofre pressões
para não anunciar candidatura.
vinicius.mota@grupofolha.com.br
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