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ELIANE CANTANHÊDE
Simples assim: pela paz!
BRASÍLIA - Só fui a Israel uma
vez, como turista. Visitei do norte,
na fronteira com o Líbano, até o extremo sul, entre Egito e Jordânia,
rodando pela Cisjordânia nos limites com a Síria. O que mais impressiona é que judeus e árabes vivem
lado a lado, bairro a bairro, numa
proximidade inimaginável.
Olhando Jerusalém do alto, é
possível distinguir, pela disposição
e pela nuance de cores, onde moram uns e outros. E, de baixo, cruza-se o tempo inteiro, ora com as famílias muito claras dos judeus, ora
com as famílias morenas dos árabes, ambas geralmente numerosas.
Um judeu ali pelos 70, engraçado
e falando várias línguas, levou meu
grupo de apenas quatro pessoas a
um restaurante árabe. A chegada
foi esfuziante, com abraços e sorrisos de velhos conhecidos. Daí a pergunta: "E numa guerra?". Do nosso
companheiro, sem titubear: "Ou
eles me matam, ou eu mato eles".
A milhares de quilômetros dessa
história, dessa cultura e das dores
do Oriente Médio, convém evitar
defesas ou acusações apaixonadas e
o erro de reagir aos atuais ataques a
partir só de 1947, de 1967 ou de
2005, cortes que nos empurram para um lado ou para outro, inevitavelmente. A questão vem de muito
antes, é daquelas em que todos têm
razão e ninguém tem razão, enquanto potências movem peças de
acordo com suas conveniências.
O que podemos e devemos é discordar tanto dos foguetes inconsequentes do Hamas quanto da "reação desproporcional" de Israel
-como acusam os governos, inclusive o do Brasil, que apita pouco,
mas não se omitiu e tem sido coerente com sua política externa.
Agiu contra a unipolaridade norte-americana e sua tendência pró-Israel. E respaldou a ação combinada da França e do Egito -os dois
países que Celso Amorim primeiro
procurou- pelo cessar-fogo e pela
reabertura de canais de negociação.
Ou seja, pela paz. Que, aliás, é justamente o que nos cabe fazer nesse
momento de sangue e de dor.
elianec@uol.com.br
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