São Paulo, domingo, 08 de fevereiro de 2004

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CLÓVIS ROSSI

Ouvidor que não ouve

PUEBLA - O deputado Luciano Zica(PT-SP), ouvidor-geral da Câmara dos Deputados, está organizando debate, no dia 18 de março, sobre "Parlamento, Sociedade e Democracia".
O convite avisa que se trata de uma resposta ao "grande número de protestos contra a última convocação extraordinária" recebidos pela auditoria. Por última, entenda-se a mais recente, que ainda está em andamento, já que, com certeza, não será a última convocação extraordinária.
A sensibilidade ao clamor público é louvável. Pena que já venha contaminada por um viés defensivo. Diz o convite que "espera-se levar à sociedade as informações corretas e isentas do sensacionalismo com que costumeiramente são levadas a público, contribuindo para divulgar o verdadeiro trabalho de um parlamentar".
Traduzindo: antes mesmo de fazer o seminário, a Ouvidoria já acha que o que vem a público são informações carregadas de sensacionalismo, que não divulgam "o verdadeiro trabalho de um parlamentar".
De fato, sempre pode haver algum sensacionalismo no tratamento da mídia a respeito deste ou daquele parlamentar ou até do conjunto da Casa. Mas a Ouvidoria, supostamente interessada em coibir os excessos dos deputados, jamais poderia dar-lhes de saída um habeas corpus preventivo, até porque tem a obrigação elementar de saber que a má imagem dos parlamentares se deve, antes e acima de tudo, a comportamentos abusivos de muitos deles, e não ao sensacionalismo da mídia.
O próprio fato de ter havido "grande número de protestos" a respeito da mais recente convocação extraordinária já é eloquente. Primeiro, a convocação não foi obra de sensacionalismo da mídia, mas fato verídico. Segundo, o pouco que se fez nessa convocação também não pode ser atribuído a sensacionalismo.
O ouvidor-geral justificaria bem melhor o seu nome se se preocupasse mais com o comportamento de seus pares do que em justificá-los.



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