São Paulo, domingo, 08 de fevereiro de 2004

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ELIANE CANTANHÊDE

O vai-não-vai de Serra

BRASÍLIA - Toda vez que leio José Serra dizendo que não vai ser candidato à Prefeitura de São Paulo, fico com a impressão oposta: a de que ele vai acabar sendo.
Políticos dizem uma coisa, mas muitas vezes são obrigados a fazer outra. Às vezes, até querem. Serra também dizia que não sairia do Ministério do Planejamento para se lançar à prefeitura paulistana no primeiro governo FHC, mas não teve jeito. Foi e, aliás, perdeu. As circunstâncias políticas e partidárias o empurram para novo embate eleitoral.
Do ponto de vista dos tucanos -ou melhor, de tucanos e pefelistas-, é importante ter um candidato de peso para enfrentar Marta Suplicy. Afinal, São Paulo é São Paulo, o agora partido do presidente é forte ali e Marta disputa com a vantagem da reeleição. Não pode ser só um passeio.
Mais importante ainda é o interesse direto dos presidenciáveis FHC, Alckmin e Aécio. Todos, especialmente os dois primeiros, precisam de um candidato de peso em Sampa. De quebra, eis uma boa maneira de segurar Serra. Se ele perder, terá acumulado mais uma derrota -e no seu próprio território. Se ganhar, estará engessado no município, toureando buracos, enchentes, violência e falta de grana.
Ou seja: a candidatura Serra interessa a todo mundo, menos ao PT. Por precisão: interessa ao PT na proporção inversa que ao PSDB. Uma reeleição já é um trunfo e tanto e, além disso, Marta aderiu à escola eleitoral paulista e paulistana de muitas obras, muito concreto, muito a ser fotografado em campanhas. O sonho é ganhar em primeiro turno. Contra Serra, vai ser difícil.
Quanto ao próprio Serra: ele anda almoçando com Aécio, viajando ao Nordeste, tentando acertar a rotina de presidente nacional do PSDB. Mas é difícil crer que esse seja um investimento melhor do que uma disputa com Marta em São Paulo.
Se quiser entrar só para ganhar, é melhor Serra nem botar o pé no palanque. Se pensar em visibilidade, discurso e liderança, mesmo sob o risco da derrota, já está dentro.



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