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CLÓVIS ROSSI
Londres e Porto Feliz
SÃO PAULO - O rádio do carro faz
propaganda do Carnaval de Porto
Feliz, uma cidadezinha a 110 quilômetros de São Paulo. Oferece não
apenas a animação que se espera de
qualquer Carnaval, em cidades grandes, pequenas ou médias, mas segurança, na forma de câmaras de TV
monitorando a folia.
Devo ficar orgulhoso? Afinal, uma
cidade pequena (45 mil habitantes),
sem grandes recursos econômicos, é
capaz de fazer o que se faz em Londres, a grande metrópole européia,
que também instalou câmaras para
vigiar as ruas.
Ou devo perder as últimas ilusões?
Afinal, o interior era, não faz tanto
tempo assim, o último refúgio da
tranqüilidade para quem se tornou
paranóico com a insegurança de capitais como São Paulo, absolutamente "invivível". É verdade que algumas
metrópoles regionais, tipo Campinas
ou Ribeirão Preto, conhecem a paranóia já faz alguns anos quase tanto
como a capital.
Mas Porto Feliz está longe de ser
uma metrópole (tem, por exemplo,
apenas sete agências bancárias).
Também está longe de ser um pólo
turístico capaz de atrair multidões
com a animação de seu Carnaval.
Não é nenhuma Salvador, Rio de Janeiro, Recife/Olinda.
É altamente improvável, portanto,
que a vigilância das câmaras seja
uma demanda de foliões paulistanos
refugiados na cidadezinha, mas que
trazem consigo a paranóia da cidade
grande e insegura.
Só pode ser efeito contágio. O medo,
que se tornou característica de São
Paulo quase tanto quanto o concreto,
espalha-se por toda a geografia do
Estado, mesmo que a criminalidade
não tenha, em cidades menores, se
tornado tão onipresente e tão incontrolável (ainda).
Só torço para que, nas Porto Feliz
da vida, continue sendo possível dizer, como minha filha, paulistana
que vive em Londres, me disse uma
vez: "Pai, como é bom poder caminhar sem ser obrigado a olhar para
trás a cada instante".
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