São Paulo, terça-feira, 08 de fevereiro de 2005

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PLÍNIO FRAGA

Crise no Carnaval

RIO DE JANEIRO - No primeiro dia de Carnaval, havia menos de um terço do público esperado: cerca de 20 mil pessoas na praça, contra 65 mil no passado. A venda de discos ligados à festa caiu à metade na comparação com 2004. Medo de acidentes e o frio são razões apontadas para a crise no Carnaval. De Veneza!
O relato da Agenzia Giornalistica Italia diz que o Carnaval de Veneza gera menos dinheiro do que o esperado e afunda mais rápido do que a própria cidade -ameaçada pelo aumento de sua taxa de rebaixamento em relação ao nível das águas.
O Carnaval veneziano, para os padrões brasileiros, é quase venusiano, quer dizer, coisa de outro mundo, com suas máscaras lindas, mas em cortejos lentos, sem graça e a uma temperatura próxima de zero grau.
A crise não se limitaria a Veneza. Agências de notícias distribuíram pelo mundo reportagens dizendo que a "máfia do jogo", os bicheiros, patrocina o Carnaval do Rio e, assim, obtém uma imagem simpática, televisionada para todo o mundo.
O triste carro alegórico com um telão no desfile do Salgueiro de anteontem, exibindo imagens de seus patronos, os bicheiros Miro e Maninho, mortos no ano passado, comprova o poder da "máfia do jogo".
Como mostra a crise de Veneza, o financiamento dos desfiles de Carnaval é equação difícil. Os bicheiros já bancaram grande parte das escolas por muito tempo. Hoje a TV paga milhões e as grandes empresas cada vez mais influem nos enredos. Os bicheiros continuam lá, mas metem menos as mãos nos (próprios) bolsos.
Ao contrário de Veneza, o Carnaval do Rio está longe de crise econômica, mas imerso numa crise artística, em grande parte causada pela origem de seu financiamento.
Mas, como festa sem dono, o Carnaval encontra formas de respiro. Hoje no Rio são os blocos de rua. Mais de 400, alguns reunindo pouco mais de dezenas de amigos, sem preocupação de concorrer, sem querer lucro, sem cordas de isolamento. É só a reunião de gente que gosta de cantar e sambar. É o que basta.

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