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São Paulo, sábado, 08 de março de 2003

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VALDO CRUZ

O risco da violência rural

BRASÍLIA - O governo de Luiz Inácio Lula da Silva começa a enfrentar, de fato, as primeiras reações contrárias. Tal como previsto, elas vêm dos aliados, daqueles que estiveram com ele até a chegada ao poder.
Depois das críticas da ala radical do PT, que só causaram arranhões superficiais na imagem presidencial, o governo Lula agora está diante de uma situação bem mais delicada e perigosa: as ações dos sem-terra, invadindo prédios públicos e promovendo depredações.
Agir de forma complacente com os aliados não parece o caminho recomendável. Estimulará ainda mais ações como as que estamos presenciando nos últimos dias, diante do sentimento de impunidade.
Pior. Levará a uma rearticulação dos ruralistas -algo que já está acontecendo-, que poderá desencadear uma indesejável onda de violência no campo. O que seria péssimo para um governo que já enfrenta questionamentos em outras áreas.
Talvez a sorte de Lula tenha sido exatamente a precipitação das lideranças dos sem-terra. Lentamente, entidades como o MST, a Contag e a Pastoral da Terra estavam tomando o comando da reforma agrária.
Depois do loteamento entre eles das superintendências do Incra (responsável pela execução da reforma agrária), o próximo ato seria revogar a medida provisória que impede a desapropriação de terras invadidas.
Agora, Lula tem o pretexto para conter o aparelhamento do Incra, agir de forma dura, porém democrática, com os sem-terra e fazer andar sua prometida reforma agrária.
Não será tarefa nada fácil. A forma como foi operada a troca de comando no Incra paralisou o órgão e colocou sob suspeita o seu papel de arbitragem na reforma agrária.
Afinal, como reagirá um fazendeiro a um laudo que declara a sua terra improdutiva e foi elaborado por um Incra chefiado pelo MST? Bom, sem falar na falta de dinheiro.
É duro ser governo. Pior será deixar de agir como tal por causa de aliados que preferem o confronto ao diálogo.


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