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VALDO CRUZ
O risco da violência rural
BRASÍLIA - O governo de Luiz Inácio Lula da Silva começa a enfrentar, de
fato, as primeiras reações contrárias.
Tal como previsto, elas vêm dos aliados, daqueles que estiveram com ele
até a chegada ao poder.
Depois das críticas da ala radical
do PT, que só causaram arranhões
superficiais na imagem presidencial,
o governo Lula agora está diante de
uma situação bem mais delicada e
perigosa: as ações dos sem-terra, invadindo prédios públicos e promovendo depredações.
Agir de forma complacente com os
aliados não parece o caminho recomendável. Estimulará ainda mais
ações como as que estamos presenciando nos últimos dias, diante do
sentimento de impunidade.
Pior. Levará a uma rearticulação
dos ruralistas -algo que já está
acontecendo-, que poderá desencadear uma indesejável onda de violência no campo. O que seria péssimo
para um governo que já enfrenta
questionamentos em outras áreas.
Talvez a sorte de Lula tenha sido
exatamente a precipitação das lideranças dos sem-terra. Lentamente,
entidades como o MST, a Contag e a
Pastoral da Terra estavam tomando
o comando da reforma agrária.
Depois do loteamento entre eles das
superintendências do Incra (responsável pela execução da reforma agrária), o próximo ato seria revogar a
medida provisória que impede a desapropriação de terras invadidas.
Agora, Lula tem o pretexto para
conter o aparelhamento do Incra,
agir de forma dura, porém democrática, com os sem-terra e fazer andar
sua prometida reforma agrária.
Não será tarefa nada fácil. A forma
como foi operada a troca de comando no Incra paralisou o órgão e colocou sob suspeita o seu papel de arbitragem na reforma agrária.
Afinal, como reagirá um fazendeiro
a um laudo que declara a sua terra
improdutiva e foi elaborado por um
Incra chefiado pelo MST? Bom, sem
falar na falta de dinheiro.
É duro ser governo. Pior será deixar
de agir como tal por causa de aliados
que preferem o confronto ao diálogo.
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