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MELCHIADES FILHO
Poder da fé
BRASÍLIA - Nos EUA, os evangélicos formam uma comunidade política poderosa e sem rival em um aspecto: a atuação quase sempre homogênea de seus integrantes nas
urnas. Na corrida à Casa Branca de
2004, por exemplo, 78% optaram
pelo Partido Republicano.
No Brasil, o comportamento de
manada não é algo dado. Pesquisa
da York University (Canadá) com
base em dados do instituto Ipsos
mostra que nem Lula, sabidamente
um fenômeno eleitoral polarizador,
conseguiu esse feito. Em 2002, o
petista foi o destinatário da maioria
dos votos evangélicos no segundo
turno. Em 2006, porém, não obteve
entre esses fiéis margens de apoio
estatisticamente diferentes.
Simone R. Bohn, autora do estudo, acha que, ao menos por ora, o
impacto eleitoral dos pentecostais
no Brasil pode ser uniforme somente na presença de candidaturas
explicitamente identificadas com
essas igrejas. A comunidade, segundo ela, ainda não consolidou no país
um "grupo de interesse" capaz de
concretizar um projeto político.
Há obstáculos. O grande número
de legendas, em contraste com o bipartidarismo dos EUA. O receio dos
caciques de lançar muitos candidatos evangélicos e perder espaço para esses puxadores de voto. A competição entre as próprias igrejas. E a
lamentável atuação, entre o folclore
e o escândalo, de vários de seus representantes na política.
Mas a multiplicação dos fiéis (25
milhões), sua capacidade crescente
de mobilização e o sonho de contar
com esse eleitorado deixam ouriçada muita gente em Brasília.
O governo Lula associa os evangélicos à "nova cidadania" nas grandes cidades, dada a penetração da
religião entre os milhões que ascenderam das classes D e C.
Com a encomendada desistência
de Wagner Montes (PDT) nesta semana, o bispo Marcelo Crivella
confirmou-se, ao mesmo tempo,
como a ponta-de-lança do Planalto
à Prefeitura do Rio e um novo ensaio do voto evangélico no Brasil.
mfilho@folhasp.com.br
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