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Volta (abrupta) ao Brasil
CLÓVIS ROSSI
Munique - Terça-feira passada, telejornal da TF2, canal francês: a tela se
enche com a imagem do PM espancando um jovem negro em Diadema,
no cinturão industrial de São Paulo. O
âncora diz: ``Bienvenues a Saint Paulô''.
É uma volta abrupta à realidade
brasileira, depois de dez dias de desligamento quase total. Meia dúzia de
frustradas tentativas de acessar a página da Folha na Internet me fizeram
desistir de saber notícias da pátria.
O jornal que habitualmente leio em
viagens internacionais (``The International Herald Tribune'') não traz uma
linha de Brasil (nem antes nem depois
de Diadema).
Depois de Diadema, no entanto, a
caixa eletrônica de correspondência
vibra de indignação com o caso. Quase todas as cartas tratam do assunto,
unanimidade rara.
Alneu de Andrade Lopes, colhido
também no exterior pelo episódio, pede pura e simplesmente a extinção da
Polícia Militar. O leitor lamenta o
``desserviço'' que a PM estaria prestando ao ``colocar o Brasil nas manchetes internacionais como um país
semibárbaro''.
Não sei, não, Alneu. Violência policial não é monopólio dos países subdesenvolvidos. Que o diga Rodney
King, espancado pela polícia de Los
Angeles (EUA) também sob a mira de
um cinegrafista amador.
O problema, como diz corretamente
outro leitor (que pede reserva do nome), é que a PM atual foi moldada
como linha auxiliar do regime militar,
para combater o ``inimigo interno''.
Antes, caçava ``comunistas''. Hoje, sua
banda podre mata menores na Candelária, sem-terra no Pará, presos no
Carandiru etc.
Quando apanhados, no máximo os
PMs ficam presos ``no Romão Gomes,
aquele mesmo presídio de onde fugiu
o cabo Bruno'' (matador travestido de
policial), como lembra Renato Ferreira da Silva Jr. (de Santos, SP).
Às vezes, o Brasil é mesmo um ``país
semibárbaro'', Alneu.
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