São Paulo, sábado, 08 de abril de 2006

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BERLUSCONI SOB ESCRUTÍNIO

Os italianos vão às urnas amanhã e na segunda-feira. Se os prognósticos das pesquisas eleitorais se confirmarem, colocarão fim aos cinco anos de governo de Silvio Berlusconi, a mais longa gestão de um premiê na Itália desde o fim da Segunda Guerra Mundial.
Como quase tudo que envolve Berlusconi, a campanha foi marcada por polêmicas até o fim. A poucos dias do pleito, o premiê insultou os eleitores da chapa adversária chamando-os de "coglioni" (literalmente, "colhões", mas que deve ser traduzido por algo como "imbecis"). Duas semanas antes, havia dito que, se os comunistas (que fazem parte da coalizão adversária) não comem criancinhas, na China eles as fervem para fertilizar os campos.
Não será entretanto por conta de declarações polêmicas que Berlusconi perderá o cargo. Os italianos já tiveram tempo de sobra para acostumar-se a elas. Parece mais exato afirmar que o governo do premiê cai devido à chamada fadiga do poder. Já desde o ano passado os partidos aliados ao premiê vêm sofrendo importantes derrotas em eleições regionais, que serviram para enfraquecer ainda mais a coalizão.
Acrescente-se às dificuldades políticas um crescimento econômico pífio -0,7% em 2005- e obtém-se um convite à alternância do poder. Sondagens dão de 3,5 a 5 pontos percentuais de vantagem para a coalizão de centro-esquerda liderada por Romano Prodi, que inclui desde católicos a comunistas da "Refundazione" (não-reformados).
A provável vitória da centro-esquerda poderá trazer de volta à Itália o espectro da instabilidade política. A diferença de votos entre as duas grandes forças, que já não seria muito grande em termos percentuais, tende a ficar ainda menor no Parlamento, devido a uma recente reforma eleitoral promovida pelo governo.
Cada partido da coalizão de Prodi ficaria, assim, com poder de vida e morte sobre a aliança. Não será, portanto, nenhuma surpresa se a Itália retomar a velha tradição de governos que se sucedem em ritmo acelerado.


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