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CLÓVIS ROSSI
A chama, o dragão, o capitalismo
ROMA - Nada contra os protestos
que tomaram conta de Londres e de
Paris durante a passagem da tocha
olímpica. Mas que há neles um duplo padrão no Ocidente, é difícil negar, ainda mais agora que Hillary
Clinton (e, antes, Nicolas Sarkozy,
ainda que tenha depois se desdito)
pede o boicote aos Jogos de Pequim. Boicote, fique claro, apenas
das autoridades, não dos atletas.
Aí já começa a exibição de duas
faces. Se há um problema de violação aos direitos humanos, não é
mais vistoso, do ponto de vista dos
chineses, exibir a bandeira (da
França, dos Estados Unidos ou de
quem seja) nas mãos dos atletas, em
vez de fazê-lo apenas na lapela de
Bush ou de Sarkozy, como habitualmente ocorre em viagens ao exterior de chefes do governo?
A mensagem que ficaria seria esta: somos contra a violação dos direitos humanos, mas não suficientemente contra para reter em casa
nossos atletas.
Não estou defendendo o boicote,
por duas razões principais. Primeiro, não tenho claro se esse é um caminho eficaz para evitar violações
aos direitos humanos onde quer
que seja. Segundo -e principal: a
lista dos países em que as liberdades públicas são cotidianamente pisoteadas é extensa, o que significa
que uma fatia significativa dos países-membros do Comitê Olímpico
Internacional deveria ficar de quarentena (pelo menos).
Até os Estados Unidos, depois de
Abu Ghraib e de Guantánamo, não
têm lá muita moral para passar sermões sobre o assunto.
O grave, no caso da China, é que
literalmente todo o mundo fechou
os olhos a seus problemas políticos,
institucionais e de direitos humanos a partir do momento em que o
regime continuou comunista na
política, mas virou capitalista na
economia.
Foi para o lixo a teoria de que democracia liberal e capitalismo caminham de braços dados. O capitalismo, sim, caminha. Sozinho.
crossi@uol.com.br
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