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Populismo e chantagem
COMEÇOU de modo sorrateiro, numa carta à Câmara
Municipal, a temporada de
chantagens que habitualmente
termina por fustigar os 5 milhões
de usuários de ônibus urbanos
na capital paulista. Na mensagem à vereança, sete das oito
concessionárias do transporte
ameaçam com "prejuízos irreparáveis na qualidade dos serviços"
caso a prefeitura não aumente o
repasse às empresas.
A provocação, método contumaz nesse setor empresarial,
coincide com o início das negociações salariais entre as empresas, de um lado, e motoristas e
cobradores, de outro. O mais correto, contudo, seria dizer que estão todos do mesmo lado -contra o usuário e o contribuinte.
Ano sim, outro também, as
concessionárias aproveitam este
momento para intimidar a prefeitura. Greves com estilo de locaute, e os transtornos colossais
que acarretam, tornam-se um
instrumento de barganha.
Neste ano, entretanto, a promessa populista do prefeito Gilberto Kassab (DEM) de manter
congelada a tarifa do ônibus
complicou ainda mais o quadro.
O compromisso eleitoral firmado no auge da bonança econômica, quando a receita pública crescia em ritmo chinês, já não pode
ser cumprido sem causar impacto sensível em outras áreas.
O subsídio repassado pela prefeitura às empresas chega a R$
660 milhões anuais -o dobro do
despendido em 2006. Sob o impacto da crise, a gestão Kassab já
reduziu o incentivo à renovação
da frota de ônibus. O preço da
passagem não sobe, mas investimentos para melhorar o conforto e a agilidade dessa modalidade
de transporte ficam ameaçados.
Enquanto isso, a aprovação popular dos ônibus paulistanos
despenca. No fim do ano passado, só 41% dos usuários se diziam
satisfeitos com o serviço -contra 61% em 2004, segundo pesquisa da Associação Nacional de
Transportes Públicos.
Nada a estranhar. Quando o
populismo do governante dá as
mãos à chantagem do concessionário, quem sofre é a população.
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