São Paulo, quarta-feira, 08 de abril de 2009

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Editoriais

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Populismo e chantagem

COMEÇOU de modo sorrateiro, numa carta à Câmara Municipal, a temporada de chantagens que habitualmente termina por fustigar os 5 milhões de usuários de ônibus urbanos na capital paulista. Na mensagem à vereança, sete das oito concessionárias do transporte ameaçam com "prejuízos irreparáveis na qualidade dos serviços" caso a prefeitura não aumente o repasse às empresas.
A provocação, método contumaz nesse setor empresarial, coincide com o início das negociações salariais entre as empresas, de um lado, e motoristas e cobradores, de outro. O mais correto, contudo, seria dizer que estão todos do mesmo lado -contra o usuário e o contribuinte.
Ano sim, outro também, as concessionárias aproveitam este momento para intimidar a prefeitura. Greves com estilo de locaute, e os transtornos colossais que acarretam, tornam-se um instrumento de barganha.
Neste ano, entretanto, a promessa populista do prefeito Gilberto Kassab (DEM) de manter congelada a tarifa do ônibus complicou ainda mais o quadro. O compromisso eleitoral firmado no auge da bonança econômica, quando a receita pública crescia em ritmo chinês, já não pode ser cumprido sem causar impacto sensível em outras áreas.
O subsídio repassado pela prefeitura às empresas chega a R$ 660 milhões anuais -o dobro do despendido em 2006. Sob o impacto da crise, a gestão Kassab já reduziu o incentivo à renovação da frota de ônibus. O preço da passagem não sobe, mas investimentos para melhorar o conforto e a agilidade dessa modalidade de transporte ficam ameaçados.
Enquanto isso, a aprovação popular dos ônibus paulistanos despenca. No fim do ano passado, só 41% dos usuários se diziam satisfeitos com o serviço -contra 61% em 2004, segundo pesquisa da Associação Nacional de Transportes Públicos.
Nada a estranhar. Quando o populismo do governante dá as mãos à chantagem do concessionário, quem sofre é a população.


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