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CLÓVIS ROSSI
Com quantos G se fará o mundo?
SÃO PAULO - Lembra-se da cúpula do G20, aquela em que Barack
Obama acarinhou Luiz Inácio Lula
da Silva, e a parte deslumbrada do
Brasil viu no gesto o surgimento de
uma nova liderança planetária?
Pois é, Timothy Garton Ash, um
dos mais respeitados acadêmicos
europeus, viu outra coisa: para ele, a
cúpula do G20 foi o momento em
que "a China surgiu definitivamente como potência do século 21",
conforme escreveu para "El País",
da Espanha.
Com isso, o que contaria no mundo não seria nem o G20, nem o G8,
nem nada parecido, mas apenas o
G2 (China e Estados Unidos).
Nesta Folha, ontem mesmo,
Marcos Nobre preferia falar de um
G4 (Estados Unidos, China, Japão e
Alemanha) como comandantes de
"um novo arranjo econômico informal" a emergir com a recuperação
da economia mundial.
Em todas essas análises, perfeitamente lógicas, o que não quer dizer
que venham a se comprovar na prática, no todo ou em parte, o pressuposto essencial é de um certo declínio norte-americano. Qualquer G
com mais de um só faz sentido se se
lembrar que, hoje, vale o G1, os Estados Unidos como única superpotência remanescente.
Lembro-me de, faz 20 anos, ter
feito uma viagem de estudos, patrocinada pelo governo norte-americano, exatamente para tentar entender o que então se chamava "declinismo", ou seja, a suposição de
que os Estados Unidos caminhavam para um declínio irreversível.
A bola da vez, como sucessor, era
o Japão.
Deu no que todos sabemos: quem
declinou foi o Japão.
Por isso, sem desprezar qualquer
hipótese futura de G-algum-número, fico com José Luís Fiori (UFRJ)
em "O mito do colapso do poder
americano": "Esse declínio relativo
dos Estados Unidos não significa
um colapso do seu poder econômico nem o fim de sua supremacia
mundial".
crossi@uol.com.br
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