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MELCHIADES FILHO
Areia movediça
BRASÍLIA - Veteranos de Brasília
baixam a bola. Dizem que a captação "por fora" de doações envolve
tanta gente que não restará ninguém para fazer barulho. Lembram
o escândalo dos Anões do Orçamento, de 1993, abafado assim que
as denúncias ganharam força suficiente para comprometer quase
200 políticos. Pode ser. Mas, ainda
que não apareçam provas novas e
mais contundentes, o caso Castelo
de Areia desenha efeitos importantes sobre as próximas eleições.
1) Procuradores, policiais, jornalistas etc. passarão um pente-fino
nos negócios da Camargo Corrêa. A
descoberta de superfaturamento
na refinaria de Pernambuco foi só
um aperitivo. O Rodoanel de São
Paulo, o Centro Administrativo de
Minas Gerais e a hidrelétrica de Jirau entraram na linha de tiro. Serra,
Aécio e Dilma, os pré-candidatos
responsáveis por esses contratos,
também. A "mãe do PAC", além disso, perderá se o país começar a desconfiar, em geral, dos grandes projetos de infraestrutura.
2) Em tese, os Tribunais de Contas, a boca do caixa dos bancos estatais e os órgãos públicos que tocam
contratos de construção civil estarão menos à vontade para operar
politicamente em 2010. A ameaça
de uma CPI do Dnit, sobre obras
viárias, não é mera coincidência.
3) A Justiça deverá exigir mais
transparência das doações oficiais
(coibindo as contribuições "genéricas" aos partidos) e rigor na prestação de contas dos candidatos.
4) O Congresso terá estímulo para votar a ideia de financiamento
público das campanhas, combinado
ou não com um teto para as contribuições de pessoas físicas e jurídicas, e a regulamentação do lobby.
5) Quem não estava alavancado
para 2010 terá dificuldade de dar a
partida agora. A operação da PF
tende a inibir o fluxo de doações, no
caixa 1 e no caixa 2. Com isso, as máquinas de governo farão como nunca a diferença. Um candidato à Collor, que surja do nada e dispare, ficou ainda mais improvável.
melchiades.filho@grupofolha.com.br
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