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CARLOS HEITOR CONY
A condição humana
RIO DE JANEIRO - O recente
temporal que se abateu sobre o Rio,
bem como as tragédias vividas pelo
Chile, pelo Haiti e, em doses menores, por outras regiões deste mundo, demonstraram mais uma vez a
dicotomia da condição humana em
seus aspectos principais: o bem e
o mal.
Em primeiro lugar, o bem. Foram
comoventes os atos de solidariedade nas tragédias recentes. Para o
Haiti e para o Chile, foram canalizados recursos substanciais de todas
as partes do mundo. Aqui no Rio,
aqueles que a mídia chama de "populares" arriscaram a própria vida
para salvar os feridos. O mesmo
ocorreu nas cidades atingidas pelos
recentes terremotos. Ponto favorável para a condição humana.
Ao mesmo tempo, e nos mesmos
cenários, despontou a selvageria
com saques e assaltos, que demonstraram os dois lados da mesmíssima condição humana.
Aqui no Rio, os congestionamentos facilitaram assaltos. Os carros
abandonados nos alagamentos foram saqueados, como saqueados foram os supermercados do Chile e
do Haiti.
Garantem que em algum ponto
do universo há um Senhor de barbas brancas que desde o início dos
tempos toma nota dos atos humanos para posterior recompensa ou
castigo. Foi assim que abriu as cataratas do céu para inundar a Terra
com o dilúvio, salvando apenas
um justo.
Esse Senhor de barbas brancas
deve ter dificuldade para julgar a
sua própria criação. Há justos que
salvam vidas e dão exemplos de solidariedade e de amor ao próximo.
Há vândalos que nada respeitam e
aproveitam a tragédia, a aflição do
instante para tirar vantagens, muitas vezes insignificantes, só pelo
prazer ou pela obrigação de exercer
o lado sinistro da condição humana.
Um dilúvio não resolve a questão.
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