São Paulo, quarta-feira, 08 de maio de 2002

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CLÓVIS ROSSI

Requentado, mas vivo

SÃO PAULO - Diz o presidente da República que o escândalo da vez (o da propina pela montagem do consórcio que acabou levando a Vale do Rio Doce) é coisa "requentada".
Digamos que seja. É exatamente aí que reside o problema do governo Fernando Henrique Cardoso: toda vez que aparece uma denúncia, em vez de apurá-la, arma-se uma tremenda "operação abafa".
A "comida", em vez de ser digerida pelas instâncias devidas, vai para o freezer, mal embalada. É fatal que, em algum momento, seja retirada do congelador e levada ao microondas, não sem antes exalar o tremendo mau cheiro das coisas mais ou menos apodrecidas.
Nem é certo, a rigor, que o caso atual seja mesmo "requentado", mas acaba sendo irrelevante se é um escândalo novo ou velho. Importante é estabelecer com clareza o seguinte:
1 - Se houve o pedido de propina, se dois ministros tiveram conhecimento dele e pelo menos um deles deu ciência ao presidente, por que nada foi feito à época?
2 - Houve a chantagem do empresário Benjamin Steinbruch, como insinua o ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros, para que o governo o ajudasse, sob pena de ser posta em circulação a história da propina?
3 - Se houve, por que foi mantida em sigilo?
4 - Por que Ricardo Sérgio de Oliveira, o pivô deste como de outros escândalos, não foi afastado do Banco do Brasil logo que surgiram as primeiras denúncias?
Nunca é demais recordar que arrecadadores de fundo, como é o caso de Ricardo Sérgio, são os responsáveis por 11 de cada 10 escândalos políticos -no Brasil como no resto do mundo.
Tudo somado, não adianta o tucanato arrepiar as penas e fingir-se de indignado porque alguém ousa suspeitar dele. Se a cada suspeita correspondesse uma investigação, nada poderia ser requentado.


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