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CLÓVIS ROSSI
Requentado, mas vivo
SÃO PAULO - Diz o presidente da República que o escândalo da vez (o da
propina pela montagem do consórcio
que acabou levando a Vale do Rio
Doce) é coisa "requentada".
Digamos que seja. É exatamente aí
que reside o problema do governo
Fernando Henrique Cardoso: toda
vez que aparece uma denúncia, em
vez de apurá-la, arma-se uma tremenda "operação abafa".
A "comida", em vez de ser digerida
pelas instâncias devidas, vai para o
freezer, mal embalada. É fatal que,
em algum momento, seja retirada do
congelador e levada ao microondas,
não sem antes exalar o tremendo
mau cheiro das coisas mais ou menos
apodrecidas.
Nem é certo, a rigor, que o caso
atual seja mesmo "requentado", mas
acaba sendo irrelevante se é um escândalo novo ou velho. Importante é
estabelecer com clareza o seguinte:
1 - Se houve o pedido de propina, se
dois ministros tiveram conhecimento
dele e pelo menos um deles deu ciência ao presidente, por que nada foi
feito à época?
2 - Houve a chantagem do empresário Benjamin Steinbruch, como insinua o ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros, para que o governo
o ajudasse, sob pena de ser posta em
circulação a história da propina?
3 - Se houve, por que foi mantida
em sigilo?
4 - Por que Ricardo Sérgio de Oliveira, o pivô deste como de outros escândalos, não foi afastado do Banco
do Brasil logo que surgiram as primeiras denúncias?
Nunca é demais recordar que arrecadadores de fundo, como é o caso de
Ricardo Sérgio, são os responsáveis
por 11 de cada 10 escândalos políticos
-no Brasil como no resto do mundo.
Tudo somado, não adianta o tucanato arrepiar as penas e fingir-se de
indignado porque alguém ousa suspeitar dele. Se a cada suspeita correspondesse uma investigação, nada poderia ser requentado.
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