São Paulo, quarta-feira, 08 de maio de 2002

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FERNANDO RODRIGUES

Desproporção

BRASÍLIA - Tratada como assunto secundário no último escândalo tucano, a possível sonegação de R$ 600 mil da prestação de contas da campanha de José Serra ao Senado, em 1994, seria fato grave em qualquer país decente.
Por aqui, a mídia chapa-branca está-se encarregando de jogar o assunto para debaixo do tapete.
De fato, R$ 600 mil equivalem a apenas 4% dos R$ 15 milhões que Ricardo Sérgio teria pedido como propina na privatização da Vale. Mas, para os R$ 600 mil, há declarações e documentos muito mais conclusivos do que para os R$ 15 milhões.
Nunca é demais recordar que R$ 600 mil em 94 seriam aproximadamente R$ 1,6 milhão hoje (pela correção do dólar). Ou seja, um pouco acima do R$ 1,3 milhão que outro dia derrubou Roseana Sarney.
Carlos Jereissati, proprietário de shopping centers e de 11,25% da Telemar, confirmou publicamente ter pago esses R$ 600 mil pelo uso de um avião e pelo salário de um piloto na campanha de José Serra em 94. A declaração é clara. Tratou-se de "um avião que foi usado por Serra na campanha". Não adianta tucanos dizerem que era um avião coletivo.
Nas contas de Serra não consta essa doação. Só R$ 95.016,68 estão declarados para as empresas de Jereissati. Não há nada do empresário como pessoa física, sendo que os R$ 600 mil para o avião saíram, segundo Jereissati, de seu bolso.
Serra diz achar o valor "desproporcional". Tudo bem. Os pefelistas também enxergam desproporção na forma como Roseana Sarney foi atacada por causa do R$ 1,3 milhão.
A desproporção na política tem sido, de forma recorrente, a favor dos tucanos. Como exercício de imaginação, convido o leitor a desenhar um cenário em que os R$ 600 mil supostamente sonegados fossem das contas de campanha de Lula (PT) ou de Maluf (PPB). Seria um caos completo para esses dois.
Serra não tem de que reclamar. Mais alguns dias e os R$ 600 mil terão evaporado do noticiário.



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