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CARLOS HEITOR CONY
Assunto requentado
RIO DE JANEIRO - Ao tempo em que corriam propinas sobre a venda das
estatais, FHC cunhou um bordão,
chamando de "nhenhenhém" o que
se dizia a propósito do primeiro escalão do governo. Agora, com as revelações de um ministro de Estado ligadíssimo ao reinado tucano, corroboradas por um ex-ministro que chegou
a despontar como eminência parda
do regime, FHC ressuscita outro bordão, na base do diz-que-diz. Para ele,
qualquer suspeita ou acusação contra a probidade de seu primeiro escalão -e às vezes contra a sua probidade- são mexericos de comadres
que nada têm a fazer, são latidos de
cães raivosos.
Não sou curtidor de detalhes de
quanto e como as propinas rolaram
durante as privatizações. O noticiário geral cuida disso e, apesar de um
ou outro exagero, o sentido factual é
verdadeiro.
Prefiro pastar -e como é triste pastar!- no conteúdo, no conceitual da
corrupção instalada sobretudo no
primeiro mandato de FHC, que tantas vítimas provocou sem contudo
chegar ao eixo do poder -que é o
próprio presidente da República.
Nenhuma suspeita quanto à honestidade pessoal de FHC, homem que
curte o poder, e não o dinheiro. Mas,
para chegar e se manter no poder, ele
foi obrigado a campanhas explícitas
e implícitas que custaram um dinheirão que ele não tinha -porque, repito, é homem honesto, cujo projeto de
vida nunca foi o enriquecimento lícito e, muito menos, o ilícito.
A figura do atual PC Farias, que arrecadava fundos para as campanhas
de Serra e do próprio FHC, pouco importa. Alguém tem de se prestar ao
papel de tesoureiro de uma campanha. O escândalo não está na arrecadação, prevista na lei eleitoral, mas
nas chamadas "sobras". Por conta
dessas sobras, foi montado um dossiê
hoje tido como falso, o Cayman.
Se acaso surgirem fatos novos que
reabram a questão, FHC já tem a resposta pronta: é um diz-que-diz, um
nhenhenhém, assunto requentado.
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