RIO DE JANEIRO - Nada contra Sorocaba, Deus é testemunha disso. Pensando bem, nada tenho contra cidade alguma, embora prefira a minha. Acontece que abri o e-mail na manhã de ontem e encontrei a mensagem enigmática: "Você é pobre porque quer!". Deus também é testemunha de que nunca quis ser pobre; se o sou, e como, é por azar meu.
Ou como dizia um folclórico político da velha-guarda, que tinha muitas amantes e era viciado no jóquei: por causa de mulheres rápidas e cavalos lerdos.
Abri o e-mail e fiquei sabendo que me ofereciam uma oportunidade maravilhosa: a compra de não sei quantos alqueires em terra farta e fecunda, com abundantes águas e flora luxuriante, além de mansão com cinco suítes, salões, casa de hóspedes, piscinas quente e fria, churrasqueira e pista de pouso "para aviões de médio porte".
Babei. Literalmente babei. As glândulas salivares ficaram excitadas. Ora essa, eu estou quieto no meu canto, cumprindo o inglório ofício de lutar pelo pão de cada dia e pelo teto de cada noite, e alguém me manda uma oferta dessas, coisas nunca sonhadas e que, na realidade nunca me fizeram falta, como a tal pista para aviões de médio porte.
Tenho três vagas na garagem do meu prédio, aqui na Lagoa, e já me dou por satisfeito. Um latifúndio em Sorocaba ou em qualquer outra parte de nada me serviria nem me alegraria.
Desprezando a oferta que não pedi, iniciei a procura que esperava, uma consulta que fiz a um entendido em computador para saber como me livrar de um vírus mais letal do que a pneumonia asiática.
O entendido examinara meu equipamento na semana passada e ficara de me dar resposta por e-mail. Na certa, esqueceu-se de minha aflição. Como vingança, mandei a ele a cópia da oferta que me fizeram em Sorocaba. Espero que ele aceite e trabalhe mais e melhor para merecer tantas e tamanhas delícias.


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