São Paulo, sábado, 08 de junho de 2002

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CLÓVIS ROSSI

O profeta do dinheiro

NOVA YORK - O leitor talvez tenha visto, na capa desta edição, a avaliação de George Soros sobre o Brasil: ou dá Serra, ou dá o caos. Os detalhes estão mais adiante, o que me dispensa de reproduzi-los.
Como é óbvio, Soros não é um vidente nem um profeta. É apenas um megainvestidor (ou megaespeculador, o leitor que escolha). Eu disse "apenas"? Bom, na comparação com profetas, ele ainda perde.
O fato é que Soros ganhou uma queda-de-braço com ninguém menos que o Banco da Inglaterra e derrubou a poderosa libra esterlina, forçando-a a sair do sistema monetário europeu anos atrás.
Mais recentemente, anunciou o colapso da Rússia, que, de fato, se deu pouco após, em 1998.
Mas ele não acerta sempre. Em 1995, na esteira da crise mexicana, chegou a prever uma situação "tipo 1929" (o ano do maior colapso econômico da história do capitalismo até agora). Não houve nada parecido.
No ano seguinte, admitiu que se enganara, o que o torna figura rara: aceitar um erro não é exatamente uma característica comum em personalidades influentes do governo e das finanças, como, aliás, se está vendo agora no Brasil.
Outra rara característica de Soros: condena o que chama de "fundamentalismo de mercado", a crença cega de que os mercados, deixados livres, ajeitarão inexoravelmente as coisas, todas as coisas.
Usa uma frase que deveria encabeçar todos os textos sobre economia e política do planeta:
"O fato de a intervenção governamental ter-se provado ineficiente não é razão para acreditar que os mercados sejam perfeitos", diz.
Tudo somado, trata-se de uma figura ímpar, goste-se ou não dele. Por isso, convém tomar nota do que diz sobre o funcionamento nada democrático dos tais mercados.
P.S. - A viagem a Nova York se deve a convite do Council on Foreign Relations para participar de seminário sobre o pós-11 de setembro.



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