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CLÓVIS ROSSI
O profeta do dinheiro
NOVA YORK - O leitor talvez tenha visto, na capa desta edição, a avaliação de George Soros sobre o Brasil: ou
dá Serra, ou dá o caos. Os detalhes estão mais adiante, o que me dispensa
de reproduzi-los.
Como é óbvio, Soros não é um vidente nem um profeta. É apenas um
megainvestidor (ou megaespeculador, o leitor que escolha). Eu disse
"apenas"? Bom, na comparação com
profetas, ele ainda perde.
O fato é que Soros ganhou uma
queda-de-braço com ninguém menos
que o Banco da Inglaterra e derrubou
a poderosa libra esterlina, forçando-a a sair do sistema monetário europeu anos atrás.
Mais recentemente, anunciou o colapso da Rússia, que, de fato, se deu
pouco após, em 1998.
Mas ele não acerta sempre. Em
1995, na esteira da crise mexicana,
chegou a prever uma situação "tipo
1929" (o ano do maior colapso econômico da história do capitalismo até
agora). Não houve nada parecido.
No ano seguinte, admitiu que se enganara, o que o torna figura rara:
aceitar um erro não é exatamente
uma característica comum em personalidades influentes do governo e das
finanças, como, aliás, se está vendo
agora no Brasil.
Outra rara característica de Soros:
condena o que chama de "fundamentalismo de mercado", a crença
cega de que os mercados, deixados livres, ajeitarão inexoravelmente as
coisas, todas as coisas.
Usa uma frase que deveria encabeçar todos os textos sobre economia e
política do planeta:
"O fato de a intervenção governamental ter-se provado ineficiente não
é razão para acreditar que os mercados sejam perfeitos", diz.
Tudo somado, trata-se de uma figura ímpar, goste-se ou não dele. Por
isso, convém tomar nota do que diz
sobre o funcionamento nada democrático dos tais mercados.
P.S. - A viagem a Nova York se deve a convite do Council on Foreign
Relations para participar de seminário sobre o pós-11 de setembro.
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