São Paulo, Terça-feira, 08 de Junho de 1999
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MARCAS QUE SE APAGAM

Para mais de uma geração de paulistanos, a marca G. Aronson parecia mais que uma mera loja. Dava a sensação de fazer parte do cenário urbano da cidade, tão inamovível quanto, por exemplo, o viaduto do Chá ou a polêmica estátua de Borba Gato, na avenida Santo Amaro, na zona sul.
Não é mais assim. A G. Aronson faliu. Não é o primeiro nem será, certamente, o último dos símbolos da cidade que desaparecem ou entram em crise gravíssima. O exemplo do Mappin talvez seja ainda mais eloquente, pelo que o velho prédio da loja na praça Ramos de Azevedo simbolizou ao longo dos anos, como ponto de referência para os paulistanos.
Nem é uma situação circunscrita à cidade de São Paulo, como mostrou recente reportagem desta Folha a respeito de marcas tradicionais engolidas por dificuldades econômicas em várias outras capitais brasileiras.
É claro que há inúmeras causas para explicar a morte súbita (ou não tão súbita) de empresas que pareciam de uma solidez inabalável. Vão desde a inadequação aos novos modelos de gerência à escassez de crédito, passando por disputas familiares que impedem uma boa gestão e pela concorrência com gigantes internacionais, com melhor tecnologia administrativa e de vendas, assim como maior capacidade financeira.
Em se tratando de comércio e de negócios, é difícil ver a falência da G. Aronson ou de outros antigos símbolos comerciais de diferentes cidades por outro ângulo que não seja o da economia e o da administração.
Mas é também difícil conter o sentimento de que, de certo modo, as falências suprimem marcos das cidades. Há algo de simbólico no fato de que tais nomes familiares sejam apagados do cenário econômico e urbano. Mais do que nunca, passou o tempo da estabilidade, da segurança das referências tradicionais, que não resistirão a menos que se submetam a um árido e pouco sentimental trabalho de renovação contínua.


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