São Paulo, Terça-feira, 08 de Junho de 1999
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Não tem tu, vai Lula mesmo

CLÓVIS ROSSI
São Paulo - Se a eleição presidencial fosse nas próximas semanas, e não apenas em 2002, o futuro presidente chamar-se-ia Luiz Inácio Lula da Silva ou algum outro candidato do PT.
É isso pelo menos o que indica o rumor surdo que emerge das conversas em pontos habituais de aglomeração humana em São Paulo.
É também o que indica a pesquisa do Datafolha publicada na semana passada, em que Lula ficou em primeiro lugar, com 27% das intenções de voto, na cidade de São Paulo.
Mas o rumor da rua não aponta para um voto decidido em Lula ou em qualquer outro candidato do PT. É muito mais na base de "não tem tu, vai tu mesmo".
Ou, posto de outra forma: aumenta de maneira exponencial o raciocínio da rua segundo o qual chegou a hora de experimentar o que nunca o eleitorado brasileiro quis experimentar, uma vez fracassadas todas as demais experiências.
A história recente do Brasil tem sido a de o presidente de turno reabilitar seu antecessor, um após o outro.
José Sarney quase fez esquecer os males do ciclo militar, assim como Fernando Collor reabilitou Sarney com formidável velocidade. Itamar Franco por pouco não recuperava Collor. Foi salvo pelo Plano Real e a consequente derrubada da inflação.
Fernando Henrique Cardoso pareceu brecar essa história, mas as mais recentes pesquisas indicam tal grau de irritação com o presidente que ele só não reabilita seu antecessor porque o antecessor é ele próprio.
Consequência inevitável: quem nunca foi governo recebe agora os bônus do desgaste acumulado pela má imagem de todos os governos anteriores.
É claro que, a três anos do início da campanha eleitoral de 2002, esse cenário pode mudar inteiramente, em qualquer direção. Inclusive na de aprofundar o desgaste de quem tem alguma ou muita responsabilidade por este governo ou pelos anteriores.


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