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CLÓVIS ROSSI
Ajuda-memória
SÃO PAULO - O jornal "Valor Econômico", com base em texto da agência
norte-americana Associated Press,
informa que o economista Jeffrey
Sachs sugeriu aos governantes africanos que dêem o calote na dívida. "As
dívidas são impagáveis", disse Sachs.
Não, leitor, Sachs não milita no
PSTU nem, ao que eu saiba, pediu ficha de inscrição no PSOL, da senadora Heloísa Helena.
Tampouco é de alguma das muitas
ONGs que lutam para o cancelamento da dívida de países pobres.
Sachs já foi chamado, pela revista
"Time" (não, não é o boletim oficial
do PSOL), de "o economista mais importante do mundo". Leciona em
uma das mais reluzentes grifes acadêmicas norte-americanas (a Columbia, na qual é diretor do Instituto
da Terra).
Assessorou o governo russo na
transição do comunismo para o capitalismo e o governo boliviano na
transição da hiperinflação para uma
relativa estabilidade (de preços, e
apenas de preços).
Uso essa ajuda-memória porque,
na pobre discussão pública brasileira, quem ousa dizer que não pagar a
dívida é uma hipótese a considerar é
tratado como cão enlouquecido, o
que permite desprezar o argumento
pelo desprezo a seu autor.
A Sachs, nenhum economista ou
jornalista que ecoa os argumentos
deles vai poder dedicar desprezo.
Sua tese, a de que a dívida dos africanos é "impagável", vale para o
Brasil? Se você fizer as contas, vale.
Não há dinheiro suficiente para, ao
mesmo tempo, pagar a dívida e acertar educação, saúde, justiça, segurança pública e todo o imenso etc. arquiconhecido de todo mundo.
Nem vale esgrimir o argumento de
que o calote joga o país caloteiro no
inferno. A mais nova pendência Brasil-Argentina é outra tremenda ajuda-memória: após o calote, aqueceu
tanto a economia que pode importar
do Brasil o suficiente para provocar
urticária em seus produtores.
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