São Paulo, quinta-feira, 08 de julho de 2004

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CLÓVIS ROSSI

Ajuda-memória

SÃO PAULO - O jornal "Valor Econômico", com base em texto da agência norte-americana Associated Press, informa que o economista Jeffrey Sachs sugeriu aos governantes africanos que dêem o calote na dívida. "As dívidas são impagáveis", disse Sachs.
Não, leitor, Sachs não milita no PSTU nem, ao que eu saiba, pediu ficha de inscrição no PSOL, da senadora Heloísa Helena.
Tampouco é de alguma das muitas ONGs que lutam para o cancelamento da dívida de países pobres.
Sachs já foi chamado, pela revista "Time" (não, não é o boletim oficial do PSOL), de "o economista mais importante do mundo". Leciona em uma das mais reluzentes grifes acadêmicas norte-americanas (a Columbia, na qual é diretor do Instituto da Terra).
Assessorou o governo russo na transição do comunismo para o capitalismo e o governo boliviano na transição da hiperinflação para uma relativa estabilidade (de preços, e apenas de preços).
Uso essa ajuda-memória porque, na pobre discussão pública brasileira, quem ousa dizer que não pagar a dívida é uma hipótese a considerar é tratado como cão enlouquecido, o que permite desprezar o argumento pelo desprezo a seu autor.
A Sachs, nenhum economista ou jornalista que ecoa os argumentos deles vai poder dedicar desprezo.
Sua tese, a de que a dívida dos africanos é "impagável", vale para o Brasil? Se você fizer as contas, vale. Não há dinheiro suficiente para, ao mesmo tempo, pagar a dívida e acertar educação, saúde, justiça, segurança pública e todo o imenso etc. arquiconhecido de todo mundo.
Nem vale esgrimir o argumento de que o calote joga o país caloteiro no inferno. A mais nova pendência Brasil-Argentina é outra tremenda ajuda-memória: após o calote, aqueceu tanto a economia que pode importar do Brasil o suficiente para provocar urticária em seus produtores.


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