São Paulo, sábado, 08 de setembro de 2007

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CLÓVIS ROSSI

Lula e o Papai Noel

HELSINQUE - Séculos atrás, em uma conversa vadia com o candidato Luiz Inácio Lula da Silva, na sede do SPD (o Partido Social Democrata alemão, ainda em Bonn), sobre o estado do Brasil e do mundo, Lula disse que, "se o Brasil algum dia chegar perto da Dinamarca, já estará de muito bom tamanho".
Pena que nos séculos transcorridos desde essa conversa, Lula, como seu antecessor Fernando Henrique Cardoso, tenham se rendido ao possível em vez de correr atrás dessa utopia, com volúpia.
Lula terá agora a chance de ver ao vivo e em cores o estado de bem-estar social não só da Dinamarca mas de todos os outros três países nórdicos (a Finlândia primeiro, depois Suécia e Noruega).
É provavelmente o menos imperfeito dos modelos que o ser humano inventou. E não há a mais leve dúvida de que o Estado é o responsável pelo bem-estar, como disse a Elvira Lobato, desta Folha, a presidente finlandesa, Tarja Halonen: "O sistema de bem-estar nórdico se baseia no Estado. Os serviços sociais e de saúde são construídos com fundos públicos. Temos médicos particulares, mas os hospitais são públicos. A administração da educação é majoritariamente pública. Não temos universidades privadas".
Dirão os nacionalistas e os conformistas que, com 5,2 milhões de habitantes, população da Finlândia, tudo fica mais fácil. Fica mesmo. Mas alguém aí é capaz de dizer que há 5,2 milhões de brasileiros, mínima fração do total, cujo bem-estar "se baseia no Estado"?
É claro que, para funcionar, depende de um teor baixíssimo de corrupção, caso da Finlândia e dos outros nórdicos, invariavelmente os primeiros no ranking da Transparência Internacional.
Ah, Papai Noel, você, que "mora" na Finlândia, podia dar a Lula e aos brasileiros, todos, a gana de pôr na agenda a utopia de ser algum dia uma Dinamarca na vida.


crossi@uol.com.br

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