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CLÓVIS ROSSI
Lula e o Papai Noel
HELSINQUE - Séculos atrás, em
uma conversa vadia com o candidato Luiz Inácio Lula da Silva, na sede
do SPD (o Partido Social Democrata alemão, ainda em Bonn), sobre o
estado do Brasil e do mundo, Lula
disse que, "se o Brasil algum dia
chegar perto da Dinamarca, já estará de muito bom tamanho".
Pena que nos séculos transcorridos desde essa conversa, Lula, como seu antecessor Fernando Henrique Cardoso, tenham se rendido
ao possível em vez de correr atrás
dessa utopia, com volúpia.
Lula terá agora a chance de ver ao
vivo e em cores o estado de bem-estar social não só da Dinamarca mas
de todos os outros três países nórdicos (a Finlândia primeiro, depois
Suécia e Noruega).
É provavelmente o menos imperfeito dos modelos que o ser humano
inventou. E não há a mais leve dúvida de que o Estado é o responsável
pelo bem-estar, como disse a Elvira
Lobato, desta Folha, a presidente
finlandesa, Tarja Halonen:
"O sistema de bem-estar nórdico
se baseia no Estado. Os serviços sociais e de saúde são construídos
com fundos públicos. Temos médicos particulares, mas os hospitais
são públicos. A administração da
educação é majoritariamente pública. Não temos universidades privadas".
Dirão os nacionalistas e os conformistas que, com 5,2 milhões de
habitantes, população da Finlândia, tudo fica mais fácil. Fica mesmo. Mas alguém aí é capaz de dizer
que há 5,2 milhões de brasileiros,
mínima fração do total, cujo bem-estar "se baseia no Estado"?
É claro que, para funcionar, depende de um teor baixíssimo de
corrupção, caso da Finlândia e dos
outros nórdicos, invariavelmente
os primeiros no ranking da Transparência Internacional.
Ah, Papai Noel, você, que "mora"
na Finlândia, podia dar a Lula e aos
brasileiros, todos, a gana de pôr na
agenda a utopia de ser algum dia
uma Dinamarca na vida.
crossi@uol.com.br
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