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MELCHIADES FILHO
Polícia montada
BRASÍLIA - Convencido de que a
visibilidade ajudaria a melhorar a
reputação e a infra-estrutura da
corporação, mas ciente das ciumeiras internas, Paulo Lacerda teve a
sensatez de permitir que muitos
aproveitassem o embalo midiático.
Em vez de tratorar, deu corda aos
grupelhos que se acotovelam dentro da Polícia Federal.
Repassou mais responsabilidades aos superintendentes regionais
e ampliou a autonomia e o orçamento da área de inteligência.
Deu certo. A competição entre
delegados por notoriedade aos poucos virou corrida por resultados.
A polícia não chegou a justificar a
imagem de hipereficiência trombeteada pelo governo. Não descobriu
a "origem do dinheiro". Não explicou direito as conexões no caso Palocci x caseiro. Não produziu provas
que segurassem na cadeia os alvos
das operações espetaculosas.
Mas é inegável que sua produtividade e popularidade aumentaram.
Lula citava a "PF republicana" sempre que o acusavam de leniência
com corruptos e aloprados.
A descentralização operacional,
porém, aos poucos gerou desgostos
ao Planalto. Foi ela que permitiu a
divulgação da foto do butim do dossiê. Ou que fossem pilhadas pessoas
próximas ao presidente, como o
churrasqueiro, o segurança, o marido da secretária e até o irmão. Ou
que se produzisse uma operação superior, em custo, ao que fora desviado pelos amigos de Vavá.
Sem o grilo-falante de Márcio
Thomaz Bastos, Lula acabou refugando. E o novo ministro da Justiça, Tarso Genro, alienado de tantas
decisões, aproveitou a deixa.
Nesse sentido, a degola de Lacerda vai além da anunciada intenção
de evitar vazamentos ou a humilhação de presos em flagrante.
Sem a publicação de escutas, sem
as intrigas nos jornais, sem a companhia de César Tralli, a PF retorna
aos subterrâneos. Assume o risco,
devidamente calculado pelo governo, de virar outra Abin, um serviço
secreto a serviço dos segredos.
mfilho@folhasp.com.br
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