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FERNANDO RODRIGUES
O Estado norte-americano
NOVA YORK - O governo federal
nos EUA decidiu ontem intervir
nas duas maiores financiadoras do
mercado imobiliário local, a Fannie
Mae e a Freddie Mac. O contribuinte pagará caro pelo rombo. A linha
de crédito inicial disponível é de até
US$ 200 bilhões.
Há uma análise fácil sobre essa
derrocada. "Os EUA seguem o "faça
o que eu digo, mas não o que eu faço". Quando a economia deles está
em perigo, injetam dinheiro público no setor privado. Se algum país
pobre faz igual, é execrado."
Essa é só parte da verdade, muito
a ver com o cinismo capitalista acima do rio Grande. Mas é recomendável cautela com alguns pressupostos míticos a respeito dos EUA.
Primeiro, que o país seja adepto do
Estado mínimo e sem regras. Segundo, que o dinheiro será jogado
pela janela e os responsáveis pelo
rombo irão veranear nas Bahamas.
São duas premissas falsas.
Sobre o tamanho do Estado, um
indicador basta. Em 2005 havia 4,1
milhões de funcionários públicos
federais nos EUA (incluindo o 1,5
milhão de militares). No Brasil, há
cerca de 1 milhão de servidores
(sendo 420 mil militares).
Os EUA também são um país
cheio de regras. Das agências reguladoras atuando no plano federal
até os temas mais prosaicos da vida
cotidiana, muita coisa tem um dedo
do Estado. Basta andar pelas calçadas padronizadas de Nova York e
compará-las com as esburacadas de
São Paulo -sobretudo as da av.
Paulista, refeitas neste ano e em vários trechos construídas acima do
nível de alguns prédios.
Os responsáveis pela incúria com
a Fannie Mae e Freddie Mac já foram demitidos. Receberam uma indenização inicial. Se ficar provado
crime, pagarão por ele.
Já no Brasil, banqueiros falidos
do Proer vivem do bom e do melhor. Vão à Justiça e pedem indenização. Alguns conseguem. Nos
EUA, a história é bem outra.
frodriguesbsb@uol.com.br
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