São Paulo, segunda-feira, 08 de setembro de 2008

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FERNANDO RODRIGUES

O Estado norte-americano

NOVA YORK - O governo federal nos EUA decidiu ontem intervir nas duas maiores financiadoras do mercado imobiliário local, a Fannie Mae e a Freddie Mac. O contribuinte pagará caro pelo rombo. A linha de crédito inicial disponível é de até US$ 200 bilhões.
Há uma análise fácil sobre essa derrocada. "Os EUA seguem o "faça o que eu digo, mas não o que eu faço". Quando a economia deles está em perigo, injetam dinheiro público no setor privado. Se algum país pobre faz igual, é execrado."
Essa é só parte da verdade, muito a ver com o cinismo capitalista acima do rio Grande. Mas é recomendável cautela com alguns pressupostos míticos a respeito dos EUA. Primeiro, que o país seja adepto do Estado mínimo e sem regras. Segundo, que o dinheiro será jogado pela janela e os responsáveis pelo rombo irão veranear nas Bahamas.
São duas premissas falsas.
Sobre o tamanho do Estado, um indicador basta. Em 2005 havia 4,1 milhões de funcionários públicos federais nos EUA (incluindo o 1,5 milhão de militares). No Brasil, há cerca de 1 milhão de servidores (sendo 420 mil militares).
Os EUA também são um país cheio de regras. Das agências reguladoras atuando no plano federal até os temas mais prosaicos da vida cotidiana, muita coisa tem um dedo do Estado. Basta andar pelas calçadas padronizadas de Nova York e compará-las com as esburacadas de São Paulo -sobretudo as da av. Paulista, refeitas neste ano e em vários trechos construídas acima do nível de alguns prédios.
Os responsáveis pela incúria com a Fannie Mae e Freddie Mac já foram demitidos. Receberam uma indenização inicial. Se ficar provado crime, pagarão por ele.
Já no Brasil, banqueiros falidos do Proer vivem do bom e do melhor. Vão à Justiça e pedem indenização. Alguns conseguem. Nos EUA, a história é bem outra.

frodriguesbsb@uol.com.br


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