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ELIANE CANTANHÊDE
Um inimigo comum
BRASÍLIA - Há uma lógica cristalina na definição pelos caças Rafale
para renovar a frota da FAB e fechar
o pacotaço militar do Brasil de Lula
com a França de Sarkozy. Uma lógica não só técnica ou comercial, de
compra e venda, mas política.
Por trás dos 36 caças, 4 submarinos, 50 helicópteros e tecnologia
para construir uma base, um estaleiro e um submarino de propulsão
nuclear, por bilhões de euros, há
uma decisão geopolítica: a França e
o Brasil se unem, não exatamente
contra os EUA, mas por um melhor
equilíbrio internacional.
Numa comparação doméstica,
Colômbia e Peru aprofundam a sua
dependência dos EUA, e Venezuela
arrasta Equador e Bolívia para os
braços da Rússia e do Irã, enquanto
o Brasil escapa da polaridade e opta
pela França. Os dois são aliados dos
EUA, mas não incondicionais, e
tentam evitar que os US$ 13 tri de
PIB da maior potência definam os
destinos do mundo. Nem por isso
alimentam o "outro lado".
A França é um país central do
mundo rico, um dos mais sofisticados tecnologicamente e o mais político da Europa. E o Brasil é um país
continental, com a Amazônia, a
Amazônia Azul, mercado crescente
e, agora, o pré-sal. Fecha as duas
pontas: biocombustíveis e petróleo.
Sem falar nas jazidas de urânio, entre as maiores do planeta.
Desde o início de 2008, quando
Jobim foi à França, à Rússia e aos
EUA, ele deixou clara, em inúmeras
declarações, a preferência brasileira pelos submarinos e caças franceses. E que, por trás das compras, havia o interesse estratégico.
O Brasil já diversificou seus mercados e, ao fechar o maior pacote
militar de sua história, sinaliza ao
mundo: França, pelos ricos, e Brasil, pelos emergentes, se movem
contra o chamado "mundo unipolar". Ou seja: trabalham para neutralizar a força acachapante dos
EUA no pós-Guerra Fria. É mais
uma alavanca para a almejada liderança do Brasil nesse novo mundo.
elianec@uol.com.br
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