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CARLOS HEITOR CONY
O fio da navalha
RIO DE JANEIRO - Uma curiosidade gráfica e histórica está ocorrendo nos eventos sobre os 70 anos
do início da Segunda Guerra Mundial. Geralmente, ou quase obrigatoriamente, o logotipo de uma
guerra, seja ela qual for, é dado pelos vencedores, ou pelo vencedor.
Foi assim com as conquistas de Alexandre, de César, da formação dos
vastos reinos e impérios. Ao vencedor tudo, inclusive nome e efígie.
Aos derrotados nada.
Com o último conflito mundial
está se dando o contrário, e não somente agora, por causa do aniversário redondo. No subconsciente da
humanidade, os nomes que ficaram
como símbolos da guerra foram os
derrotados Hitler e Mussolini, evidente que respeitando-se a importância do primeiro sobre o segundo.
Basta a cara de Hitler, com sua
franjinha na testa e seu bigode chapliniano, e logo nos vem a ideia da
pior guerra da história, a mais cruel
e a que gerou mais subprodutos,
como o Holocausto.
Os cadernos e matérias midiáticas que lembram o ano de 1945 são
condensados nas duas figuras ditatoriais, juntas num carro ou numa
parada, ou separados em seus
respectivos fronts.
Sim, também aparecem, em tamanho e importância menores, as
fotos de Roosevelt, de Churchill e
de Stálin, o primeiro sendo substituído por Truman já no final da
guerra. Mas os vencedores funcionam como vinhetas gráficas para
ilustrar o principal, que é a cara de
Hitler, fazendo a saudação nazista,
ou a suástica, que é a sua logomarca
exclusiva.
Não há imagem famosa de Napoleão derrotado: sobram os momentos de glória em Marengo e Austerlitz. Por que aconteceu o contrário,
o vencido mais exposto do que o
vencedor?
Alguma coisa ainda precisará ser
dita sobre uma guerra que colocou a
humanidade no fio da navalha entre a civilização e a barbárie?
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