São Paulo, terça-feira, 08 de outubro de 2002

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ELIANE CANTANHÊDE

Voto envergonhado

BRASÍLIA - Votar no governo é "feio" e na oposição é "chique". Voto no governo é camuflado, na oposição é alardeado. Eis uma das diferenças entre intenção de voto e voto real.
Ao longo da campanha presidencial do primeiro turno, quem queria votar em Lula e no PT enchia a boca. Quem achava José Serra melhor, engolia em seco. Cara a cara com a urna, prevaleceu a opção real, íntima.
O fato é que, apesar de a "onda vermelha" ter ajudado os candidatos petistas a fazerem bonito na reta final de Norte a Sul (bem... de Norte a quase Sul), ela não engrossou a enorme margem pró-Lula o suficiente para a vitória no primeiro turno -que parecia tão próxima, tão possível.
No caso de Serra, foi o contrário. Aparentemente, não houve onda nenhuma pró-governo nem pró-tucanos, mas Serra atravessou toda a apuração entre 23% e 24% dos votos e chega ao final com um índice que nunca atingira nas pesquisas.
Há muitas interpretações para a diferença final a menos para Lula e a mais para Serra, mas, além do voto envergonhado, dois outros fatores podem ter sido decisivos.
Um deles: a participação de FHC na campanha de Serra em Minas aos 44 minutos do segundo tempo. Palacianos e fernandistas em geral apostam nessa hipótese.
Outro fator: o debate da TV Globo. Serra foi o mais feio, abatido e sem charme televisivo, mas ganhou na comparação com Lula em dois quesitos. Passou segurança e conhecimento. Lula -justa ou injustamente e graças a Anthony Garotinho- passou insegurança e desconhecimento.
O debate foi tarde da noite, e seu público era de boa escolaridade. Não estava interessado nos belos olhos de Serra ou de Lula, mas -acredite você ou não- no conteúdo.
Lula vai levar o segundo turno para o lado da paixão, da emoção, do sabor de "grande virada do país". Serra vai se manter onde sempre esteve na campanha: do lado da razão, chato e professoral. Mas eficaz.
Um embate bom de ver. O eleitor e o Brasil só têm a ganhar.


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