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ELIANE CANTANHÊDE
Voto envergonhado
BRASÍLIA - Votar no governo é "feio" e na oposição é "chique". Voto no governo é camuflado, na oposição é
alardeado. Eis uma das diferenças
entre intenção de voto e voto real.
Ao longo da campanha presidencial do primeiro turno, quem queria
votar em Lula e no PT enchia a boca.
Quem achava José Serra melhor, engolia em seco. Cara a cara com a urna, prevaleceu a opção real, íntima.
O fato é que, apesar de a "onda vermelha" ter ajudado os candidatos petistas a fazerem bonito na reta final
de Norte a Sul (bem... de Norte a quase Sul), ela não engrossou a enorme
margem pró-Lula o suficiente para a
vitória no primeiro turno -que parecia tão próxima, tão possível.
No caso de Serra, foi o contrário.
Aparentemente, não houve onda nenhuma pró-governo nem pró-tucanos, mas Serra atravessou toda a
apuração entre 23% e 24% dos votos
e chega ao final com um índice que
nunca atingira nas pesquisas.
Há muitas interpretações para a diferença final a menos para Lula e a
mais para Serra, mas, além do voto
envergonhado, dois outros fatores
podem ter sido decisivos.
Um deles: a participação de FHC
na campanha de Serra em Minas aos
44 minutos do segundo tempo. Palacianos e fernandistas em geral apostam nessa hipótese.
Outro fator: o debate da TV Globo.
Serra foi o mais feio, abatido e sem
charme televisivo, mas ganhou na
comparação com Lula em dois quesitos. Passou segurança e conhecimento. Lula -justa ou injustamente e
graças a Anthony Garotinho- passou insegurança e desconhecimento.
O debate foi tarde da noite, e seu
público era de boa escolaridade. Não
estava interessado nos belos olhos de
Serra ou de Lula, mas -acredite você ou não- no conteúdo.
Lula vai levar o segundo turno para
o lado da paixão, da emoção, do sabor de "grande virada do país". Serra
vai se manter onde sempre esteve na
campanha: do lado da razão, chato e
professoral. Mas eficaz.
Um embate bom de ver. O eleitor e
o Brasil só têm a ganhar.
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