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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Tensão e apreensão no ar
SÃO PAULO - Na prancheta, como
dizem os boleiros, Dilma Rousseff
larga na frente no segundo turno.
Isso por vários e bons motivos: o resultado obtido nas urnas (46,9% a
32,6% de Serra), a prosperidade
econômica, a popularidade de Lula, a força da máquina federal etc.
Em campo, porém, as coisas não
começam bem para Dilma. Surpreendida pelo revés, sua campanha buscou, como em 2006, com
Lula, reunir logo aliados eleitos em
torno da candidata. O que seria
uma demonstração de força acabou lembrando um velório, no qual
sobressaía a expressão derrotada (e
o rosto muito inchado) da petista.
O QG dilmista procura agora tirar
a polêmica do aborto da pauta. Mas
de pouco adianta Ciro Gomes dizer
que os tucanos propõem o tema
"em termos calhordas e desonestos" se Dilma não consegue ser honesta consigo mesma. Seu contorcionismo é tanto nessa matéria que
ela se arrisca a enrolar a língua.
A de Ciro, que volta à cena, sempre foi solta. Meses atrás, ao ser alijado por Lula da disputa, ele chamava o PMDB de "roçado de escândalos". Dizia também que "Dilma é
melhor do que o Serra como pessoa, mas Serra é mais preparado,
mais legítimo, mais capaz. Mais capaz, inclusive, de trair o conservadorismo e enfrentar a crise que conheceremos em um ou dois anos".
Até o PMDB, sempre ciente do
seu papel "nesse negócio da governabilidade" (definição impagável
de Renan Calheiros), decidiu exibir
suas asinhas. Reunido com Michel
Temer, o partido reclamou do "anonimato" a que foi relegado e aproveitou para cobrar do PT as derrotas de Geddel e de Hélio Costa.
Tudo isso seria só espuma retórica se todos já não tivessem percebido que o roteiro do segundo turno
tende a ser distinto daquele de
2006, onde o PT busca inspiração.
Lá, 15 dias após o primeiro turno,
Lula abriu 20 pontos sobre Geraldo
Alckmin. Agora, se Dilma tiver metade disso de vantagem, os petistas
estarão agradecendo ao Senhor de
joelhos -quem sabe até em latim.
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