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RUY CASTRO
Catita e marota
RIO DE JANEIRO - No domingo,
uma linda senhorinha de 90 anos,
na sala de votação, me falava de
sua experiência eleitoral. Embora
seja das poucas brasileiras de sua
geração ainda a votar, esta será a
primeira vez que, sem contar reeleições, verá um presidente eleito pelo
voto direto receber a faixa de alguém que a recebeu de seu antecessor nas mesmas condições. Se isto
já aconteceu antes no Brasil, não foi
no seu tempo.
Como tem hoje 90 anos, nasceu
em 1920 e se tornou eleitora em
1938. Mas, em 1937, Getulio Vargas
já dera o golpe que criara o Estado
Novo. Donde ela só iria votar pela
primeira vez em 1946. E, desde então, devido a suicídio, renúncia, ditadura e impeachment, nenhum de
nossos presidentes eleitos -Dutra,
Getulio, Juscelino, Jânio e Collor-
protagonizara tal sequência. O que
só se dará agora: o vencedor de
2010 será enfaixado por Lula, que já
o fora por FHC.
Para que não se diga que tal oscilação é apenas brasileira, fosse a senhorinha cidadã americana e, no
seu tempo de eleitora, também só
teria visto esta sequência acontecer
a partir de Jimmy Carter, em 1976.
Até então, desde 1932, com Franklin Roosevelt, Harry Truman,
Dwight Eisenhower, John Kennedy, Lyndon Johnson e Richard
Nixon, a sucessão americana foi
sempre interrompida por morte natural, assassinato ou impeachment
de alguns deles.
Embora também ache que só se
aprende a votar votando, minha
nova amiga sugeriu que deveria haver uma emenda a esta máxima dizendo: "Nem sempre -ou os EUA
não teriam eleito (e reeleito) George
W. Bush". Mas, acrescentou, até
quem passou a vida votando pode
votar errado um dia.
Arrisquei perguntar-lhe, baixinho, em quem votara. E, a provar
que, às vezes, o voto tem razões que
só a emoção reconhece, ela piscou,
catita e marota: "No Plínio. Gostei
do velhinho".
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