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CARLOS HEITOR CONY
Coqueiro que dá coco
RIO DE JANEIRO - Quando Rubem Braga voltou do giro de algumas semanas em terras estranhas,
constatou que a única novidade que
encontrou no Brasil foi o Hollywood com filtro. Nem isso encontrei de novo por aqui após um mês
de andanças por aí. E, durante esses
30 dias, a única notícia que tive
da amada pátria gentil foi a da chacina de 40 e tantos elementos ligados ao tráfico de droga e de alguns
policiais.
A notícia repercutiu fortemente
lá fora. Muitos estranharam que em
terra de tanta e tamanha violência o
Comitê Olímpico tenha escolhido o
Rio para sede da Olimpíada de
2016. Cheguei a ler em respeitável
folha inglesa que chegara a haver
uma trégua entre os senhores do
tráfico e o governo brasileiro, uma
espécie de trégua nos dias decisivos
da escolha final. A bandidagem fizera um acordo com as autoridades
para evitar qualquer marola que
prejudicasse a decisão do Comitê
Olímpico. Depois, sim, continuaria
a guerra.
Absurdo desses só seria possível
se o Brasil já não tivesse a péssima
imagem de uma violência que não é
de hoje e ameaça continuar amanhã. Outros jornais falaram em
guerra civil, considerando a chacina
um episódio de uma guerra real entre duas nações, a legal e a do crime
organizado. Na Irlanda e na Espanha, que sofrem com facções separatistas, de vez em quando há massacres, mas geralmente de menores
proporções.
O presidente Lula declarou nesta
semana que a política de repressão
ao tráfico precisa ser reavaliada,
não está dando resultados promissores. Independentemente da
Olimpíada, o mundo precisa ver o
Brasil não como ele é, mas como
precisa ser. Como diz aquele belo
samba exaltação do Ary Barroso,
precisamos dar ao mundo o que admirar, além de nossos coqueiros
que dão coco.
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