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VINICIUS TORRES FREIRE
Sombras no alto petismo
SÃO PAULO - A atitude do alto petismo diante da ressurreição do caso
Celso Daniel evidencia que se completa a transfiguração do PT e do lulismo em establishment, estamento
da ordem, sem mais ou menos, como
qualquer outro partido no poder.
As negaças e os ares rarefeitos de indignação na reabertura do inquérito
e, ainda mais agora, quando Sérgio
Gomes da Silva é acusado de ordenar
a morte de Daniel, não indicam mais
ou menos envolvimento do petismo
no entorno de baixezas e corrupção
de Santo André.
Mas agregam ao currículo e aos
modos do lulismo a desconversa maníaca dos poderosos normais: eles talvez nem precisem mentir, mas a dissimulação é internalizada, um hábito de quem não está disposto a dar
satisfações ao público.
A nomeação de Duda Mendonça
para o comando da campanha eleitoral de Lula já ensinava o que o neopetismo estava disposto a fazer pela
vitória. Isto é, não faria coisas piores
nem melhores que a maioria dos candidatos, mas Duda poluiria o odor de
santidade do pau oco em que vivia o
PT. Para ser candidato, Lula fez
questão do publicitário. Fez dele ministro da propaganda. Grão-mestre
do logotipo de programas sociais
marretados ou copiados dos tucanos.
Alguns dos assessores maiores de
Lula envolvem-se em discussões ridículas sobre o PIB crescer nada ou o
dobro de nada. As profecias débeis e o
arrivismo em nada diferem daqueles
dos anos de calmaria enganosa da
era FHC, quando gente responsável
era ridicularizada quando alertava
sobre a imprevidência da política
econômica.
Mentira, marquetagem e imprevidência juntam-se agora ao hábito tucano de enterrar escândalos. Santo
André era um centro de formação de
quadros petistas. Lá houve corrupção
e um assassinato por esclarecer. Pode
bem ser que o alto petismo nada tenha a ver com isso -e o caso será
igualmente grave, pois então haveria
uma conspiração contra o governo.
Mas "estranho", para usar a palavra
de José Dirceu, será se o lulismo e o alto petismo tentarem jogar essa história na sombra.
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