|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FERNANDO RODRIGUES
Comércio nas arábias
DUBAI - Ao andar por um dos palácios da Síria, em Damasco, uma autoridade local falou: "Granito brasileiro comprado da Itália".
Em Beirute, o café servido em um
bar local era brasileiro. Mas chega
até lá por meio de uma empresa de
comércio exterior européia. Assim
como móveis e outros produtos.
Ontem, na hora da sobremesa no
almoço de Lula com o xeque Zayed
bin Sultan Nahyan, em Abu Dhabi, o
deputado Ricardo Izar (PTB-SP)
soube que os Emirados Árabes Unidos importam pouquíssimas frutas
do Brasil. Quis saber a razão. "Porque vocês não nos oferecem", foi a
resposta ouvida de um ministro local,
sentado ao seu lado.
Seriam necessárias muitas páginas
de jornal para relatar outras histórias semelhantes. O mundo árabe é
uma coleção de oportunidades perdidas para o Brasil. A viagem de Lula
pretende mudar esse cenário. É difícil
saber se terá sucesso.
A principal esperança dos cerca de
300 empresários presentes ontem na
feira comercial de Dubai era a presença de Lula. Por serem países fortemente estatizados, os negócios por
aqui se dão mais ou menos como na
ditadura brasileira nos anos 70. O governo quer, o governo faz.
O presidente da Petrobras, José
Eduardo Dutra, encontrou-se com os
diretores das duas estatais de petróleo dos Emirados Árabes Unidos.
"Falaram para mim que quem decide é o governo. Não digo que foi inútil, mas é uma reunião apenas preliminar. Aqui, a decisão é do xeque, de
quem manda", relata Dutra.
Apesar da delegação inchada com
amigos, casais conhecidos e um certo
deslumbramento, é possível que a
viagem do presidente da República
seja positiva no médio prazo para o
comércio exterior do país. Para isso,
os empresários terão de adotar uma
atitude mais agressiva. Não é muito a
caraterística do empreendedor brasileiro. E o Itamaraty terá de provar
que mudou mesmo sua forma de
atuar -aí a porca torce o rabo, pois
nem a conta de luz esse ministério
tem conseguido pagar em Brasília.
Texto Anterior: São Paulo - Vinicius Torre Freire: Sombras no alto petismo Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: O "X-plus" Índice
|