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CARLOS HEITOR CONY
O "X-plus"
RIO DE JANEIRO - Houve tempo em que uma empresa comercial adotou
o "algo a mais" como expressão de qualidade. Dava de barato que os
concorrentes eram bons, divinos, maravilhosos, mas somente o seu produto, além de bom, divino e maravilhoso, tinha aquele algo a mais. O apelo
era simples tradução ou adaptação
do "X-plus", oriundo da violenta
concorrência econômica e comercial
dos Estados Unidos -slogan que, da
esteira industrial, passou para a avaliação geral dos recursos humanos,
formando o critério que fará de um
bom profissional um presidente, um
vice ou um simples executivo.
Esse "X-plus" é, por definição e prática, um dado aleatório, que nada
tem a ver com a qualidade ou a eficiência do produto ou do empregado.
Exemplo: para ocupar a vaga de um
chefe supremo, que dirija uma grande empresa, um grande negócio ou
exerça uma grande função, sempre
aparecem dois, às vezes três candidatos em igualdade de condições. São
medidos milimetricamente, como
peças raras destinadas a um museu.
E, como são excelentes, empatados
técnica e moralmente, surge então o
tal "X-plus", que decidirá a parada.
E aí fica valendo tudo: desde o corte
dos ternos, a qualidade dos sapatos,
a beleza ou a simpatia da esposa até
mesmo a capacidade de beber ou jogar golfe.
Como acontece a cada final de ano,
está se formando a grande marola da
reforma do ministério, que poderá
ser total, parcial e -como estamos
no Brasil e somos governados pelo
PT- poderá até ser inexistente.
E, como estamos no Brasil e governados pelo PT, os critérios para tudo
ou para nada transcendem esse algo
a mais. Dificilmente há homogeneidade entre os candidatos, cujas disparidades podem levar um agrônomo a tratar de minas e energia e um
astrônomo a cuidar de agricultura.
O "X-plus" da vez é o comprometimento prévio com a reeleição de Lula.
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