São Paulo, segunda-feira, 08 de dezembro de 2008

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FERNANDO DE BARROS E SILVA

Cultura & Política?

SÃO PAULO - "Se vocês, em política, forem como são em estética, estamos feitos". Era mais fácil -e urgente- relacionar política e cultura nessa época, quando o gênio de Caetano Veloso reagia, nos festivais, às hostilidades da esquerda nacionalista, ao mesmo tempo em que todos, tropicalistas e antitropicalistas, confrontavam a ditadura de direita instalada no país em 64.
Vinte anos depois, na esteira da redemocratização, a vontade de passar o país a limpo parecia ainda forte o bastante para amalgamar as pessoas em torno de um sentimento progressista da vida. Mas os anos 80 foram sobretudo marcados pela primeira onda globalizante, que enfatizava a dimensão sem fronteiras da cultura e mandava varrer para o lixo da história a velharia nacional-popular do período anterior.
Escrevendo à quente em meados daquela década, o crítico Roberto Schwarz dizia que os globalistas locais eram modernos, mas no fundo conformistas -que aderiam à maré ideológica triunfante acreditando fazer parte das vanguardas estéticas e libertárias do início do século 20: "Alinham-se com o poder como quem faz uma revolução", disse, imagino que em parte inspirado pela experiência da Ilustrada.
Mas o que pensar das relações entre política e cultura hoje? A política, cada vez mais, se resume a uma espécie de administrativismo social, ocupada com a gestão emergencial de populações mais ou menos estropiadas. E a cultura, a despeito das muitas coisas interessantes que se faça por aí, quando não se limita a um nicho entre outros, vai se tornando um ramo do mecenato corporativo. Os bancos descobriram o glamour de cuidar das coisas do espírito -o que alguém já chamou de culturalização do dinheiro.
Caetano, Ferreira Gullar, Cacá Diegues e Maria Rita Kehl estarão à noite no Masp para debater este nó, que às vezes parece mais um conjunto vazio. Se é difícil evitar a sensação de que cultura e política formam um par à moda antiga, mais incômodo é constatar que a cara da nossa época é a da direita festiva.


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