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FERNANDO RODRIGUES
Monotonia micropolítica
BRASÍLIA - Uma certa instabilidade política se repete a cada dois
anos por ocasião das eleições para
as presidências da Câmara e do Senado -as escolhas serão em 1º de
fevereiro, em menos de dois meses.
Desta vez, a disputa interna na
micropolítica congressual parece
ter atingido um estágio de monotonia nunca visto em décadas. Há
uma emulação do que se passou em
eleições gerais recentes, realizadas
num clima de grande calmaria e
normalidade. Era comum ouvir em
outubro pessoas não se dando conta de que mais de 5.500 prefeitos
estavam sendo eleitos.
Colabora para o marasmo um cenário no qual não há nenhum candidato exótico disposto a fazer oposição ao Planalto. Na Câmara, os
dois nomes mais competitivos são
Michel Temer (PMDB-SP) e Ciro
Nogueira (PP-PI). Ambos querem o
apoio de Lula e fazem juras de amor
ao presidente. Nem pensam em
romper com o governo.
No Senado, um candidato já lançado é o petista Tião Viana, do Acre.
O outro deve ser do PMDB, partido
mais governista que o PT.
Também deve ser relativizado o
efeito colateral no caso de o PMDB
perder a presidência da Câmara ou
a do Senado -ou as duas. Haverá
choro e ranger de dentes. Alguns
peemedebistas ameaçarão romper
com Lula. Acusarão o Planalto de
interferência. Mas é nula a chance
de o PMDB entregar seus seis ministérios e virar oposição.
Há ainda a teoria segundo a qual
Lula deve arbitrar o processo porque os presidentes da Câmara e do
Senado estarão no comando durante a sucessão de 2010. Bobagem. Se
o PMDB encaçapar as duas Casas,
nada garante seu apoio ao candidato de Lula. Os peemedebistas se
movem com o vento. Quem estiver
na frente e oferecer mais, leva.
Tudo somado, surgirá muita espuma no Congresso até fevereiro.
Muita retórica e pouca conseqüência prática na vida real do país.
frodriguesbsb@uol.com.br
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