São Paulo, segunda-feira, 08 de dezembro de 2008

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RUY CASTRO

Sal e iodo na Ilustrada

RIO DE JANEIRO - Quando entrei na Folha pela primeira vez, em agosto de 1983, espiei em volta e me senti em casa. Ao longe, na Redação, passou Osvaldo Peralva, articulista do jornal e meu antigo chefe no "Correio da Manhã", no Rio -a última vez que o vira fora na porta do "Correio", na noite do AI-5, 13 de dezembro de 1968, sendo levado preso pelos militares.
Outro ex-colega do "Correio", o repórter Galeno de Freitas, me divisou lá do fundo e veio falar comigo. Numa salinha ao lado, estava Tarso de Castro, que eu conhecera quase no parto do "Pasquim", em 1969, e com quem, depois, ficaria dez anos rompido -Johnny Walker, certamente, o pivô da briga. Mas, já então, tínhamos voltado às boas, nas madrugadas do Rodeio.
Numa Folha daquele dia, aberta na mesa de Tarso, reencontrei amigos ou conhecidos do Rio: Paulo Francis, colunista em Nova York; Sérgio Augusto, mestre da alta e da baixa cultura; Janio de Freitas, com a coluna política; e Newton Rodrigues, então titular deste espaço na pág. 2 e a pessoa que me dera o primeiro emprego. Exceto por Sérgio, eu trabalhara com todos no extinto "Correio". Sérgio e Francis também tinham sido do "Pasquim". E, daí a pouco, chegaria Norma Couri, estrela do Caderno B.
Para os garotos da Ilustrada, Tarso, Francis, Sérgio, Norma e eu devíamos ser, no mínimo, contemporâneos dos pterodáctilos. Não tanto pela idade (em 1983, eu contava míseros 35 anos), mas pela folha literalmente corrida. Por algum motivo, todos tínhamos ficha na polícia, dez empregos na carteira e anos e anos de praia.
Noves fora Francis, autor da frase "Intelectual não vai à praia, intelectual bebe", havia noites em que, na inesquecível Ilustrada dos anos 80, um visgo de sal e iodo parecia brotar das Olivettis, sair pela janela e tomar a Barão de Limeira.


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