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RUY CASTRO
Sal e iodo na Ilustrada
RIO DE JANEIRO - Quando entrei na Folha pela primeira vez, em
agosto de 1983, espiei em volta e me
senti em casa. Ao longe, na Redação, passou Osvaldo Peralva, articulista do jornal e meu antigo chefe
no "Correio da Manhã", no Rio -a
última vez que o vira fora na porta
do "Correio", na noite do AI-5, 13
de dezembro de 1968, sendo levado
preso pelos militares.
Outro ex-colega do "Correio", o
repórter Galeno de Freitas, me divisou lá do fundo e veio falar comigo. Numa salinha ao lado, estava
Tarso de Castro, que eu conhecera
quase no parto do "Pasquim", em
1969, e com quem, depois, ficaria
dez anos rompido -Johnny Walker, certamente, o pivô da briga.
Mas, já então, tínhamos voltado às
boas, nas madrugadas do Rodeio.
Numa Folha daquele dia, aberta
na mesa de Tarso, reencontrei amigos ou conhecidos do Rio: Paulo
Francis, colunista em Nova York;
Sérgio Augusto, mestre da alta e da
baixa cultura; Janio de Freitas, com
a coluna política; e Newton Rodrigues, então titular deste espaço na
pág. 2 e a pessoa que me dera o primeiro emprego. Exceto por Sérgio,
eu trabalhara com todos no extinto
"Correio". Sérgio e Francis também tinham sido do "Pasquim". E,
daí a pouco, chegaria Norma Couri,
estrela do Caderno B.
Para os garotos da Ilustrada,
Tarso, Francis, Sérgio, Norma e eu
devíamos ser, no mínimo, contemporâneos dos pterodáctilos. Não
tanto pela idade (em 1983, eu contava míseros 35 anos), mas pela folha literalmente corrida. Por algum
motivo, todos tínhamos ficha na
polícia, dez empregos na carteira e
anos e anos de praia.
Noves fora Francis, autor da frase "Intelectual não vai à praia, intelectual bebe", havia noites em que,
na inesquecível Ilustrada dos anos
80, um visgo de sal e iodo parecia
brotar das Olivettis, sair pela janela
e tomar a Barão de Limeira.
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