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ELIANE CANTANHÊDE
Encantados, mas críticos
BRASÍLIA - Conversando daqui e
dali com diplomatas estrangeiros
em Brasília, confirma-se que, sim,
os países ricos, pobres e mais ou
menos estão encantados com Lula,
mas também acham que ele tenta
dar passos maiores do que as pernas na política externa.
No caso de Honduras, o mundo
todo condenou o golpe, mas o Brasil
se coloca como um herói isolado, o
bastião da democracia, e agora se
recusa a apoiar o resultado das eleições só para testar forças com os
EUA na OEA. Soa infantojuvenil.
Em vez de agarrar-se à defesa de
um princípio, a democracia, e de
um país, Honduras, o Brasil agarra-se a um personagem: Zelaya. Não
quer fechar uma página e abrir outra, acatando Porfírio Lobo e arrancando dele compromissos de um
governo de pacificação e respeito ao
presidente deposto.
No caso do Irã, as opiniões se dividiram entre os que simplesmente
rechaçaram o encontro Lula-Ahmadinejad em Brasília e os que entendem a necessidade de integrar o
regime iraniano às normas de convivência internacional. Mas ninguém engoliu o Brasil lavar as mãos
no voto de censura da ONU ao Irã
por causa da questão nuclear, principalmente depois de Lula dizer
que a reação dos opositores em
Teerã era chororô de "derrotados".
Além disso, a diplomacia instalada em Brasília vê Lula querendo ser
o líder sempre, em toda a parte
-hoje, na reunião sul-americana
em Montevidéu; depois, na Conferência do Clima em Copenhague.
Há um exagero, que gera ciúmes e
ironias: "Por que ele não se ocupa
mais em combater a corrupção no
Brasil?", perguntaram-me ontem.
Uns e outros adoraram o vexame
de Manaus, onde Lula esperava nove presidentes para brilhar e acabou fazendo Sarkozy atravessar o
Atlântico para tomar cafezinho
com um único presidente: o da
Guiana Inglesa. Em alguns relatórios de embaixadas para suas chancelarias, o relato do episódio resvala
para a mais pura chacota.
elianec@uol.com.br
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