São Paulo, quinta-feira, 09 de janeiro de 2003

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VINICIUS TORRES FREIRE

O PT que diz sim e coisas demais

SÃO PAULO - O governo de Lula da Silva completou ontem uma semana, sem contar a ressaca do peru das festas e as horas que ministros levaram para encontrar suas salas. Dadas as polêmicas irrelevantes criadas por declarações ingênuas ou ridículas, afora os factóides, a primeira semana de Lula pareceu longa.
Mas só pareceu. É muito pouco tempo para cobrar planos organizados, rumos precisos, um plano de governo real, enfim. O novo governo é inexperiente mesmo, começos de governo são mesmo tumultuados e a situação do país é delicada demais para pacotes administrativos.
Mas não é possível negar o constrangimento ou o impulso para o cinismo diante de cenas como a da esquizofrênica posse do presidente do BC. O discurso de Henrique Meirelles foi mais realista que o do rei morto, tanto que até mesmo o suave ministro Antonio Palocci foi levado a ressaltar a promessa de diferença entre a economia do PT e a de FHC. Pior, sabe-se que a esquizofrenia das cenas de posse é sintoma de indefinições mais profundas.
Houve mais tiros no concerto. O ministro da Previdência, que jamais gostou da reforma da Previdência, ri amarelo diante dos ímpetos reformistas de Palocci, que também não são consenso no PT. O ministro do Trabalho falou demais antes da hora e enfrenta o desgaste inútil de negar que esteja à direita de Paulinho da Força Sindical.
O Fome Zero tem de ser coisa séria, mas foi precipitadamente lançado como guarda-chuva marqueteiro do governo. Divulgado aos piparotes, dá em pequenos naufrágios ou em idéias idiotas, como exigir nota fiscal de miserável beneficiado e sugerir a instituição do tutor petista da marmita, para o pobre gastar direitinho os trocados que receber.
Muito ministro veio do Congresso, sofre de logorréia parlamentária. Jornalistas enxameiam no governo novinho. O PT ainda troca a roupa esquerdista em público. São ingredientes de mais polêmica inútil. Uma pausa para reflexão cairia bem.


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