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GABRIELA WOLTHERS
Famintos a menos
RIO DE JANEIRO - O governo de Luiz
Inácio Lula da Silva passa por uma
interessante adaptação do discurso
de campanha para a realidade do
poder. Talvez por isso tantos ministros estejam tendo que explicar declarações dadas na véspera.
Dentro dessa linha de acomodação,
passou praticamente despercebido
um detalhe bastante relevante do discurso de posse do ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Num espaço de
tempo recorde simplesmente desapareceram 18,5 milhões de pessoas que,
segundo o PT da campanha eleitoral,
não conseguem suprir suas necessidades básicas de alimentação.
Do início ao final da disputa à Presidência, Lula e sua equipe afirmaram dezenas de vezes que existem 44
milhões de pessoas que passam fome
no Brasil. Seriam esses 44 milhões
-26% do total da população- o foco do programa Fome Zero, pessoas
cuja renda não consegue assegurar
uma alimentação básica adequada.
Esse número não saiu do nada. É
defendido pelo Ibase (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas), ONG criada por Betinho, e contabiliza brasileiros com renda diária
inferior a US$ 1 para se alimentarem.
Sempre foi o dado usado pelo PT.
Pois em seu discurso, Palocci afirmou mais de uma vez que o Brasil
tem "15% da população vivendo com
uma renda que nem mesmo supre
suas necessidades alimentares básicas". Ou seja, segundo o ministro responsável por liberar os recursos para
os programas sociais, são 25,5 milhões os brasileiros que passam fome.
Ainda é muito, mas bem menos do
que os 44 milhões.
Esse percentual também não foi inventado. Palocci usou dados oficiais
do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada), órgão ligado ao
Ministério do Planejamento. Esse
sempre foi o número defendido pelo
governo FHC. A diferença entre os
milhões do Ibase e os milhões do Ipea
rendeu muitas farpas entre o PT e o
antigo governo. Pelo visto, a meteórica acomodação de Palocci ao receituário tucano não se deu apenas na
área econômica.
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