|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ELIANE CANTANHÊDE
Para que serve a universidade?
BRASÍLIA - As universidades federais choram. De barriga vazia, porque estão sem dinheiro, sem autonomia,
sem estímulo. E de barriga cheia, porque seus professores podem chegar
tarde, faltar às aulas e parar de estudar. Ainda por cima, aposentam-se
cedo.
Ninguém questiona que o salário
dos professores é um vexame, mas
também é esquisito como os professores são jovens. Cadê o velho catedrático? Possivelmente, aposentado desde os 48 e trabalhando em universidades particulares. Ou seja, recebendo subsídios do Estado para favorecer a iniciativa privada.
O ministro Cristovam Buarque, ex-reitor da UnB, opina que o modelo
não funciona e precisa ser bem chacoalhado até reconquistar o fundamental: um mínimo de idealismo.
Como imaginar universidade, professor e universitário sem idealismo?
Como lembra Cristovam, as universidades surgiram quando os conventos deixaram de se conectar com
as realidades locais e a sociedade.
Agora, são as universidades que estão desconectadas. O que vem a seguir?
Elas deixam de ser, ao mesmo tempo, centro de produção do saber e garantia de emprego. A informação circula freneticamente pelo mundo
além dos campi. Os estudantes têm
jornal, TV, internet, e as empresas,
públicas e privadas, desenvolvem
pesquisas e formam profissionais.
Presidentes e vice-presidentes se
elegem sem diplomas, enquanto advogados, engenheiros, psicólogos e
historiadores guiam táxis pelas
enlouquecedoras vias das capitais.
É por isso que a crise das universidades não é apenas emergencial, mas
principalmente estrutural. É preciso
saber para quê e para quem elas existem. Se são destinadas ao bem coletivo ou ao luxo individual de quem
quer um diploma pendurado na parede. Se devem discutir o sexo dos anjos ou propor o fim da miséria.
Os professores FHC, Malan, Serra,
Paulo Renato viveram às turras com
as universidades -de onde vieram.
Agora, espera-se que o torneiro mecânico Lula seja o salvador da pátria.
Da pátria universitária também.
Texto Anterior: São Paulo - Clóvis Rossi: A Alca. Ou o feitiço virou Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Nome aos bois Índice
|